9 - Tipos de “Agentes”
Como o ser humano percebe o mundo que o cerca? Como
interpreta esta percepção? Uma música, por exemplo, é percebida por duas
pessoas de uma única maneira, mas no processo de interpretação é entendida
conforme os valores pessoais de cada uma destas pessoas. Logo, para que haja
inflamação não basta a existência de órgãos sensoriais, mas a existência de
determinados valores, são estes que doarão à pessoa a concepção de vida à
qual ela se julga pertencente. Uma
situação aparentemente simples pode fazer alguém chorar e se extasiar, numa
extrapolação emocional de grande beleza, intensidade e ternura enquanto as
maiores tramas teatrais, os romances mais trabalhosamente elaborados podem ter
a função de meros passa tempos ou divertimentos supérfluos. Por quê isto
ocorre? Não é isto injusto com o autor? O autor ( Nós somos todos autores nos
momentos em que queremos transmitir uma idéia, sentimento ou mensagem à outrem
) têm uma gama de sentimentos, idéias e vivências que deseja consciente ou
inconscientemente colocar em sua obra, aliás ele sempre consegue colocar na
obra sua própria essência, seu próprio caráter, queira ou não. O fato que
estamos discutindo é como se passa a assimilação da obra, seja esta um romance,
uma música, pintura, escultura, palestra, ou pessoa. Justo porque a
interpretação da arte é um exemplo dado que pode ser aplicado à interpretação
da vida, consigo de todas as suas possíveis situações, porque na vida estamos
fazendo uma constante interpretação daquilo que vemos ou vivenciamos.
Fora
comentado algo relativo à capacidade de percepção de detalhes, e à
subjetividade. O que são aspectos importantes na interpretação da arte, e da
vida. Na verdade quando temos uma idéia inicial ou um sentimento posteriormente
queremos expressar isto, mas nunca podemos expressar em sua forma metafísica ou
pura, por causa disso temos de ter algum meio de expressão, este meio é
oferecido pelas possibilidades da vida. As expressões faciais por exemplo
não são o sentimento propriamente dito, mas sim um meio de expressão dos
sentimentos. As expressões corporais se localizam no mesmo termo, assim
como todos os sinais que inconscientemente exprimimos. As idéias que temos
também são expressões de uma essência anterior.
Devemos
esquecer o mundo aparente e dar mais valor aos detalhes que às aparências, a
beleza por exemplo pode ser uma concepção estática aparente, de modo que
durante a vida fomos educados e condicionados a julgar que determinados
parâmetros estéticos são mais agradáveis que outros. Quê pensar disto?
Simplesmente que não existe uma concepção de belo absolutamente definida, que
os valores são concepções criadas pela sociedade. A não ser que haja dentro de
cada ser humano uma percepção únicas, valores estéticos universais que
independam do condicionamento produzido pelas tendências culturais de sua
comunidade e de seu tempo. Mesmo existindo esta essência estética única dentro
do ser humano isto não descarta a hipótese de que a sociedade estará influenciando
suas concepções de belo e feio, a pergunta mais pertinente a fazer agora é: Até
que ponto isto ocorre? Qual a proporção de influência que os valores culturais
da sociedade e do tempo exerce sobre a “essência universal” do ser humano? Isto
dependerá de cada pessoa, para explicar esta parte do pensamento criaremos aqui
dois conceitos “Cultura externa” e “Cultura pessoal”, o ser se posiciona no mundo entre estas duas
vertentes, em proporções das mais diversas, no aspecto cultural infelizmente a
sociedade consumista se preocupa mais com consumir que com produzir de modo que
em tempos anteriores da humanidade a cultura era muito mais rica que
atualmente. O ser humano têm duas possibilidades na vida:
1a) Expressar-se.
2a) Assimilar as expressões do mundo.
Assim a
cultura externa se refere à tudo que pode ser assimilado e a cultura pessoal à
tudo o que é produzido pelo sujeito. Em minhas buscas tenho me preocupado muito
por encontrar a metafísica das coisas, logo, no intuito de imaginar como e o
quê faz com que haja no mundo um criação cultural. Há um princípio que se chama
“vontade” que indica respectivamente o princípio primordial da vida, pois
ocorre antes da vida. O princípio que pode ser chamado de vida, em nossas
concepções é “inflamação”. De princípio é importante dizer que a vida se
transcorre em comunidade, com miríades de pessoas interagindo, logo devemos
colocar em pauta a existência basicamente de agente que exterioriza e agente
receptor. Fundamentamo-nos nestas idéias para criar a teoria de transmissão
da vida.
AGENTE QUE EXTERIORIZA:
Vontade primordial – Vivência ( “inflamação” )
– Expressividade
AGENTE RECEPTOR:
Percepção sensória – Valores pessoais
– Interpretação ( Assimilação e possível
inflamação )
Com esta
sinopse sucinta fica mais fácil entender a idéia, para ilustrar vamos inventar
um caso fictício de um músico: antes que seja criada a música há uma vontade
antecedente, mesmo que inconsciente de criar a música, esta é a vontade
primordial, que vêm à tona antes que o processo de criação se inicie, o
processo de criação musical é entendido como a vivência o que corresponde
justamente à “vida verdadeira” que havíamos anteriormente discorrido”, pois a
criação artística verdadeira deve envolver sentimentos, idéias e concepções
diferentes do que antes se tinha, pois causa movimento ao espírito, algo
diferente do que havia antes está em vigência, é por isto que na vida verdadeira existe a “inflamação” .
Durante a vivência musical o músico estará se inflamando com o que está sendo
criado, ou seja: está tomado por novas sensações, novos estados de percepção
interna, pode ocorrer o caso da composição não inflamar o espírito do criador,
isto no caso de uma composição absolutamente “matemática”, metódica e racional,
neste caso pode nem haver uma vontade primordial, quantas vezes não ouvimos: -
Aquele sujeito faz as coisas sem vontade. – Após vivenciar e se inflamar a
música o sujeito irá exteriorizá-la através de sua execução, durante a execução
há uma re-vivência da composição que envolveu determinados estados do ser. É
por isto que cada música, que cada peça de teatro, cada dança transmitem
“estados de espírito” ou “estados do ser” peculiares. Pode ocorrer do agente
que exterioriza exprimir-se de maneira não adequada ao momento da vivência
musical, o que é o mesmo que dizer que uma música foi interpretada sem que o
intérprete soubesse exprimir-se segundo o estado de espírito que o compositor
estava no momento da composição que era o momento da “vida real”.
Na
transmissão da vivência, além da possibilidade de incongruência durante a
re-vivência há detalhes relacionados ao agente receptor. É por isto que a
percepção pode estar distorcida com relação à vivência original, não impede
porém que mesmo que sendo distorcida não indique uma possibilidade de vivência
alternativa do mesmo objeto. Teremos de princípio a percepção sensória, que
pode ser diferente para cada pessoa, uns são míopes ou relativamente surdas,
podem ser hipersensíveis ao frio ou ter visão super aguçada, temos então uma
variedade de ferramentas perceptivas totalmente personificada ainda que sejam
basicamente as mesmas. Quê causa isto? Uma percepção sensória tão personificada
quanto as ferramentas responsáveis por ela. Isto, meus amigos, foi só o
princípio, pois em seguida há o fato de que os valores pessoais de cada pessoa
são também personificados, neste aspecto, no entanto, é válido dizer que os
valores de pessoas de uma mesmo sociedade são mais similares que de sociedades
diferentes, que os valores de pessoas de um mesmo país têm maiores
possibilidades de serem parecidos que de paises distantes, ainda que isto não
tenha de ser considerado como regra irrefutável. Quais são estes valores
pessoais? Religiosos, filosóficos, morais, estéticos, de conduta, trabalhistas,
unindo todos num conjunto são os valores que definem a conduta de vida do
sujeito e que estão relacionados com tudo aquilo que percebe, assim as
percepções sensoriais da música são submetidas à estes valores de tal forma que
são inseridos na música a saber que ela transmite, mas não é na verdade a
música que está exatamente transmitindo aquilo, mas sim o sujeito que está
incutindo nela aquilo que sempre esteve nele, a sensação de que algo é trazido
pela música pode ser, deste modo, entendida como ilusória, o que ocorre é o
entendimento da música. É por isto que o entendimento pleno depende dos valores
pessoais.
Após os
valores terem sido relacionados com a morfologia, com a formação estética do
que está sendo percebido ocorre uma interpretação ou assimilação, que é um
momento em que pode haver a “inflamação” ou o movimento das constantes daquela
pessoa, onde seus valores poderão ser postos em seus limites ou mesmo
alterados. Caso sejam alterados, isto
indica que há a transmissão real de alguma coisa durante o processo de exteriorização
artística. Ou seja: Valores do que exterioriza são realmente enviados, se são
entendidos, ou mesmo tendo sido entendidos, se são assimilados esta é questão à
parte.
Podemos
colocar outro exemplo em vigência, um corredor que ao chegar ao final de uma
prova, adota determinadas expressões faciais, isto é a vivência que ocorre,
tendo partido de uma vontade inicial de efetivar a prova, sendo uma expressão
que transcorre simultânea à vivência pode-se dizer que vivencia e exprime num
só momento. O sujeito que assiste interpreta não a vivência diretamente mas a
expressão do corredor. Fazemos isto quando conversamos com alguém e quando
assistimos às mais variadas situações humanas.
Não
basta ser arguto, perspicaz ou habilidoso para entender a arte ( a mundo ao
derredor ) as características do “sensitivo” são outras. Na tentativa de
perceber o mundo assim como ele realmente é devemos saber quais são estas
características, que aliás, já foram citadas: capacidade de percepção
subjetiva, capacidade de imersão nos detalhes, sabemos também que se referem
aos valores pessoais, digamos que quanto mais desenvolvidos sejam estes valores
mais precisa será a percepção, já que esta depende dos valores.
Me
fundamento numa percepção de vida, portanto integral e holística, passando
longe da especialização. Um músico não têm, por exemplo, a percepção musical
mais apurada que um psicólogo ou um caboclo que tenha larga experiência de
vida, pois os valores pessoais são um tanto mais profundo que estudos técnicos
ou teóricos da música. Isto ocorre porque a música não é um agregado organizado
ou desorganizado de sons, mas sim um meio, através do qual a vida se exprime. O
que está sendo expresso chama-se vida, e para que haja uma percepção mais
correta e fidedigna da vida devemos estar cheios de valores de vida, por isto o
desenvolvimento da percepção espiritual depende da filosofia de vida, para que
sobrevenha a percepção mediúnica ( conforme discorrido no livro “valores da
contemplação “ ). Exemplo: Uma pessoa lê um romance escrito na época da
revolução industrial sem qualquer outra fonte de conhecimento desta época, lê
somente pelo prazer da leitura, por certo poderá se deleitar com a leitura e
adorar o livro. Digamos que esta pessoa tenha após um ano estudado durante três
meses as idéias e a história referente à este período da Revolução Industrial,
logo ela percebe o quão ingênua havia sido sua leitura, e o quão distorcido
havia sido seu entendimento da obra, o que era vermelho ela interpretou como
branco, e o que era azul como lilás. O quê podemos extrair deste exemplo? A
conclusão definitiva de que a percepção dos objetos externos depende dos
valores internos, neste caso me referí restritamente ao valor “conhecimento”,
mas poderíamos colocar outros valores como “sentimentos”, “moral” ou
“espiritualidade”. É mais provável que esta pessoa entenda os sentimentos e o
que quis o autor do romance transmitir após seus três meses de estudos sobre a
época que antes, ainda que ela possa ter tido “inflamação do espírito” na
primeira leitura e sendo esta “inflamação” um tanto distorcidas com relação às
intenções, sentimentos e vivências do autor, isto não indica necessariamente
que esta interpretação tenha sido em vão ou inócua. Mesmo que não percebamos a
essência das coisas, o fato é que o que percebemos é também chamado de “vida”,
uma percepção distante do estado de espírito do transmissor não deixa de ser a
percepção de algo, e digo mais, seria ao mesmo tempo uma criação alternativa de
vida. Por isto a vida possui muitas facetas, a maneira mais simples e óbvia de
indicar isto é colocar uma pessoa em cada canto de uma sala aberta no teto ao
céu numa noite sem nuvens e pedir para observarem um telescópio, cada uma das pessoas terá uma
visão distinta daquele mesmo objetos, e supondo que antes nunca tenham se
deparado com um telescópio umas dirão que estão vendo uma estrutura complexa e
podem até descrever mecanismos cilíndricos, esféricos ou engrenagens metálicas,
outras dirão que estão vendo planetas, estrelas ou até nuvens cósmicas de cores
diversas. Em quem vamos acreditar? O fato é que mesmo a percepção de cada qual
sendo distinta todas são corretas, isto indica que mesmo coisas diferentes e
por vezes antagônicas podem ser corretas, é justo aí que queria chegar, porque
a percepção alternativa não é completamente inócua, em si possui um valor, e
pode fazer a pessoa “inflamar-se” por isto possui sua validade. Isto dá a
importância àquele que percebe o mundo como ele realmente é e àquele que
interpreta o mundo numa visão distorcida.
O
importante é inflamar-se permeado pelos “valores humanos universais” que estão
de certo modo incutidos em cada ser humano em maior ou menor proporção
independente da cultura externa. A cultura pessoal, retomando este assunto, é
referente à aspectos únicos de cada pessoa referem-se às possibilidades de
criação, por isto intuição e criatividade são termos chave neste assunto. A
criação de uma cultura pessoal depende de ferramentas adquiridas no meio
externo, como por exemplo noções de técnicas de desenho, técnicas de
interpretação corporal e facial para o teatro e a dança, noções de teoria
musical e poética ou literatura para o ato da escrita, assim na exteriorização
de uma cultura pessoal existem subsídios externos, que são prestativos na forma
de ferramentas, mas não só de ferramentas como também de material útil para
remodelação e reconstrução da realidade, como no caso de treinar a vista com
muitas obras de pintura para possuir uma conjuntura de possibilidades. Até que
ponto uma mente livre e limpa de tudo é capaz de criar? Existe esta
possibilidade? Seria uma criação todavia mais personalizada?
No comments:
Post a Comment