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- O casarão e o barraco:
A verdade, a verdade é que sempre haverá a necessidade de algo a mais.
A vida não se contenta com o pouco que é oferecido. Números e palavras não são
suficiente para saciar a sede de sentir, hão de existir a beleza estética na
simetria dos desenhos fantásticos de conchas do mar e a singular relevância dos
vocabulários mais hábeis e fecundos. Não satisfaz um conhecimento inócuo de
valores verdadeiros, não traz alegria ao espírito uma vida sem vontade, uma
música sem sentir. Pois esta é justamente a função do todo, a função do mundo é
de um subsídio para que o espírito se movimente, assim como a função das
equações matemáticas é fazer com que o homem se extasie diante de uma
resultante de simetria inigualável numa concha, a função é movimentar o espírito
e nada mais. Não obstante, no decorrer do caminho tropeçamos, julgando que a
função da matéria está localizada nela e não em nós mesmos, é como dar mais
valor à ferramenta que ao objeto para qual foi ela construída. Exemplos? Como
poderia eu dar mais valor à uma música que aos sentimentos e à sensibilização
que ela provoca? Independente da música, podemos aqui estar falando de uma
música simples composta por músico não famoso ou por min mesmo ou tú, ou então
uma música de composição complexa e extraordinária como “Missa Solenis” de
Bethoven, pois o que mais vale não é o instrumento, mas sim o nível de
sensibilização que se consegue atingir. Metáfora: Pode-se construir um
casarão belíssimo, amplo e magnânimo com ferramentas pequenas e pode-se
construir um simples barraco dispondo de tratores e máquinas grandes, pois o
que mais conta na construção do universo é a vontade e não os recursos de que
se dispõem. Estamos falando sobre os valores fundamentais da vida, aqueles
que descrevem a vida e não a vida aparente. No caso da música podemos dizer que
a música em si é vista como vida aparente, a vida verdadeira é a sensibilidade
que a musica provocou, cada ser humano desenvolve em si uma capacidade de
inflamar o espírito diante das coisas da vida.
Esta
“inflamação” se refere ao modo como aquilo foi interpretado e o quanto aquilo
modificou a realidade interna da pessoa, o quanto aquilo atingiu, interferiu,
movimentou, mudou concepções antigas, fêz nascer novos estados de percepção da
vida. O entendimento pleno do termo “inflamação”, segundo a concepção que estou
propondo, é grande importância para o entendimento da função primordial da
vida, e da visão mais ampla do que é “vida verdadeira” distinguindo-a de “vida
aparente”.
O fato é
que as coisas por si só não existem, são subsídios para que exista vida, na
concepção de vida verdadeira. É justamente por isto, que na visão espiritual
“reencarcionista” existe uma necessidade de vida na carne para que haja o
desenvolvimento do ser, do contrário o mundo só seria instituído de vida
espiritual, descartando a dualidade matéria e espírito. O que faz com que
aumentemos nossa “capacidade de inflamação” perante o mundo é a quantidade de
importância que doamos ao que está sendo contemplado. Uma pessoa que têm uma
grande capacidade de imersão em detalhes, que entende de maneira bastante
criativa, original e espontânea mensagens subjetivas é aquela que mais se
“inflama” com o mundo.
Inflamação é a
função da vida, quando este processo ocorre é quando surge a vida verdadeira,
tanto mais elevado será o grau de inflamação ( intensidade de vida ) quanto
seja a entrega daquele que interpreta a vida para com o objeto que observa, que
interpreta. Como ocorre esta entrega? Utilizamo-nos para isto de alguns
recursos, a começar pelas ferramentas de interpretação do mundo: visão,
audição, tato, paladar e olfato. Deste modo você irá perceber determinado
objeto voltando-se para ele e entrando
em contato através destes mecanismos. Há muitas ressalvas que devo aqui expor,
do contrário, se isto fosse tudo não haveria qualquer necessidade de começar
estes escritos. De inicio: O mundo é aparente, a única coisa que não é ilusória
é a percepção que consegue inflamar, aquela que muda a tua disposição de
espírito, somente isto pode chegar a receber o nome de VIDA.
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