Tuesday, November 5, 2024

8 - O casarão e o barraco

 

8 - O casarão e o barraco:

      A verdade, a verdade é que sempre haverá a necessidade de algo a mais. A vida não se contenta com o pouco que é oferecido. Números e palavras não são suficiente para saciar a sede de sentir, hão de existir a beleza estética na simetria dos desenhos fantásticos de conchas do mar e a singular relevância dos vocabulários mais hábeis e fecundos. Não satisfaz um conhecimento inócuo de valores verdadeiros, não traz alegria ao espírito uma vida sem vontade, uma música sem sentir. Pois esta é justamente a função do todo, a função do mundo é de um subsídio para que o espírito se movimente, assim como a função das equações matemáticas é fazer com que o homem se extasie diante de uma resultante de simetria inigualável numa concha, a função é movimentar o espírito e nada mais. Não obstante, no decorrer do caminho tropeçamos, julgando que a função da matéria está localizada nela e não em nós mesmos, é como dar mais valor à ferramenta que ao objeto para qual foi ela construída. Exemplos? Como poderia eu dar mais valor à uma música que aos sentimentos e à sensibilização que ela provoca? Independente da música, podemos aqui estar falando de uma música simples composta por músico não famoso ou por min mesmo ou tú, ou então uma música de composição complexa e extraordinária como “Missa Solenis” de Bethoven, pois o que mais vale não é o instrumento, mas sim o nível de sensibilização que se consegue atingir. Metáfora: Pode-se construir um casarão belíssimo, amplo e magnânimo com ferramentas pequenas e pode-se construir um simples barraco dispondo de tratores e máquinas grandes, pois o que mais conta na construção do universo é a vontade e não os recursos de que se dispõem. Estamos falando sobre os valores fundamentais da vida, aqueles que descrevem a vida e não a vida aparente. No caso da música podemos dizer que a música em si é vista como vida aparente, a vida verdadeira é a sensibilidade que a musica provocou, cada ser humano desenvolve em si uma capacidade de inflamar o espírito diante das coisas da vida.

      Esta “inflamação” se refere ao modo como aquilo foi interpretado e o quanto aquilo modificou a realidade interna da pessoa, o quanto aquilo atingiu, interferiu, movimentou, mudou concepções antigas, fêz nascer novos estados de percepção da vida. O entendimento pleno do termo “inflamação”, segundo a concepção que estou propondo, é grande importância para o entendimento da função primordial da vida, e da visão mais ampla do que é “vida verdadeira” distinguindo-a de “vida aparente”.

      O fato é que as coisas por si só não existem, são subsídios para que exista vida, na concepção de vida verdadeira. É justamente por isto, que na visão espiritual “reencarcionista” existe uma necessidade de vida na carne para que haja o desenvolvimento do ser, do contrário o mundo só seria instituído de vida espiritual, descartando a dualidade matéria e espírito. O que faz com que aumentemos nossa “capacidade de inflamação” perante o mundo é a quantidade de importância que doamos ao que está sendo contemplado. Uma pessoa que têm uma grande capacidade de imersão em detalhes, que entende de maneira bastante criativa, original e espontânea mensagens subjetivas é aquela que mais se “inflama” com o mundo.

      Inflamação é a função da vida, quando este processo ocorre é quando surge a vida verdadeira, tanto mais elevado será o grau de inflamação ( intensidade de vida ) quanto seja a entrega daquele que interpreta a vida para com o objeto que observa, que interpreta. Como ocorre esta entrega? Utilizamo-nos para isto de alguns recursos, a começar pelas ferramentas de interpretação do mundo: visão, audição, tato, paladar e olfato. Deste modo você irá perceber determinado objeto  voltando-se para ele e entrando em contato através destes mecanismos. Há muitas ressalvas que devo aqui expor, do contrário, se isto fosse tudo não haveria qualquer necessidade de começar estes escritos. De inicio: O mundo é aparente, a única coisa que não é ilusória é a percepção que consegue inflamar, aquela que muda a tua disposição de espírito, somente isto pode chegar a receber o nome de VIDA.

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