Saturday, November 2, 2024

5 - iNTERPRETAÇÃO SENSITIVA DAS FENOMENOLOGIAS DO MUNDO

 

5 - Interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo

 

       O segredo da intuição do sensitivo está em saber interpretar da maneira concisa cada um destes sinais. A importância de todos os processos fenomênicos ( pessoas, paisagens, e artes ) é sensibilizar a alma, provocando o movimento da alma através dos 5 níveis de conhecimento da realidade, que constituem ferramentas para o contato com a realidade, é notável ainda pensar que aquele que está sentado no teatro não participa da peça.

      Seguindo no assunto que havíamos discorrido anteriormente, iremos tentar aprofundar este assunto especificando alguns de seus possíveis detalhes.

      O sub-título aqui exposto, sugere que haja no mundo diferentes maneiras de interpretar o mundo, que estão situadas numa ordem progressiva de desenvolvimento, de modo que existe a interpretação mais grosseira e tosca ( do aprendiz ) e a mais sutil e detalhada. ( do sensitivo )

      Disse antes que era impossível definir com exatidão como funciona o método interpretativo do sensitivo, no entanto é nesta senda que iremos arriscadamente entrar. A dificuldade em definir o modo de interpretação do sensitivo, é que este depende muito dos fatores intuitivos para interpretar o mundo ao seu redor, ao contrário do aprendiz que está ainda num dos primeiros 3 estágios de nossa escala de conhecimento da realidade. A partir do nível de intuição inicia-se a formação do sensitivo, a interpretação intuitiva do mundo não pode ser inteiramente explicada, por este ser um processo totalmente maleável, dependente de circunstâncias variadas, estas que se relacionam com os valores de imaginação, crenças, moral e fé. No entanto será exposto o que se julga como básico no que se refere à interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo; É necessário antes que se iniciem os sub-tópicos, que se elucide que há a auto-interpretação e a interpretação do mundo exterior.

      ISFM – Quando se interpreta as ações que outras pessoas tomam, o que elas falam, a maneira como elas se portam diante do que as circunstâncias do mundo lhe impõe. A interpretação de suas formas, cor de seus olhos, tamanho, peso, beleza estética ( que pode ser feita mediante variados parâmetros ) maneira de vestir, de andar. Pois tudo, sem exceção, faz parte do ser.

      É bastante complexo o intento de realizar uma divisão das coisas que podem ser interpretadas no mundo, no entanto espero colocar de maneira simplificada as idéias que desejo transmitir. Ainda perseveram aqui os conceitos de mudança e silêncio ( Definidos no tópico: Sobre o movimento pela idéia. ). As fenomenologias ou coisas que podem ser sentidas, percebidas, experimentadas e conhecidas foram divididas em fenomenologias na mudança e no silêncio; Como antes, a mudança é aquilo que muda de um estado à outro, o silêncio é aquilo que permanece inalterado. Os dois são características que fazem parte do mundo. Conforme a tabela, existe a auto-interpretação na mudança e no silêncio. Vamos, para facilitar, explicar um por um dos termos.

Na mudança: A auto-interpretação corporal, é o entendimento do que ocorre com o corpo nos momentos de mudança, ou movimento físico irregular, ou com os pensamentos no caso do movimento intelectual irregular, não nos esqueçamos que tudo o que é cíclico seja pensamento ou movimento são categorias pertencentes ao silêncio.

Metáfora do teatro: Tudo se passa como se nos encontrássemos diante de um teatro vazio ( o mundo ), no camarim podemos ver e conhecer todas as roupas, podemos ver como é o cenário, ou mesmo como é a iluminação do palco, no entanto a peça ainda não começou, por isto estamos no “silêncio”, não sabemos como exatamente será representada a peça, ainda que possamos ter lido uma breve sinopse dela ( Que são respectivamente as filosofias perenes do mundo ). Somente assistindo à peça apreciamos as mudanças e movimentos ocorridos.

      Podemos conhecer o mundo percebendo suas características mutáveis e imutáveis, isto ocorre no que se refere à uma série de coisas como: nós mesmos, pessoas, paisagens ou artes.

NAS PESSOAS: Podemos interpretar suas formas ou morfologias: Cor do cabelo, penteado, corpo ou biotipo, formato e posicionamento dos sobrolhos, cor dos olhos, formato do nariz e da orelha. Não só isto, como também o que nelas se passa na “mudança”: maneira como direcionam o olhar, relação entre o que falam e o direcionamento do olhar, maneira de andar ou correr, maneira como movimentam os sobrolhos, maneira como inspiram ou expiram e em quais momentos fazem isto mais intensamente, as atitudes que elas tomam, a maneira peculiar ou não como movimentam as mãos. Todos estes, tanto no silêncio ( formas ) quanto na mudança ( transformações ) são aspectos interpretados pelos sensitivos de maneira profunda e análoga à uma percepção pragmática ou óbvia. Os detalhes mais minuciosos possuem em si valores específicos, que devem ser reconhecidos por aquele que deseja conhecer a realidade em seu contexto integral, por isto justamente foi criado tal modo de análise da realidade, para reconhecer seus valores reais, do contrário ficaríamos restritos à informações básicas e óbvias, que podem, se sendo os únicos alicerces de nossa percepção se insulficientes para descrever a realidade essencial, ficaríamos assim num “mundo de máscaras”.

NAS PAISAGENS: Temos como características de “silêncio” as formas do mundo, incluindo formas construídas pelo homem como edifícios,  pontes, torres, ruas, casas etc... ou formas naturais como: planícies, montanhas, horizontes, lagos, mares ou tudo aquilo que possa constituir  parte de uma paisagem. Na “mudança” temos aquilo que se movimenta ( sendo fundamental que além de ter o potencial de se movimentar esteja em movimento ), no contexto da paisagem pode ser: o vento, chuvas, uma carroça, carro, trator, caminhões, uma hidroelétrica, um avião ou animais O que estiver dentro da paisagem e se movimentar faz com que a paisagem esteja em movimento. É importante frisar que o objetivo último da realidade é sensibilizar a alma. ( tal como da peça de teatro )

      Por isto o sensitivo dá um valor aos fenômenos da natureza diferente do que o que é dado pelos aprendizes, de maneira que se o sensitivo é aquele que completou os 5 níveis de conhecimento da realidade, inserindo o nível transcendental ( ou religioso, porquanto podemos julgar estas duas palavras como similares ainda que há uma diferença gigante entre as duas: religião pode ser traduzido como religação com Deus, mas na maioria das vezes é mais correto dizer que significa um sistema de crenças específicas no qual se impregna um caráter de divisão de poderes com várias hierarquias; Por outro lado espiritualidade independe de religião, podem-se encontrar médiuns em qualquer seita, pois a potencialidade de contato com deus é antes uma naturalidade humana que um sistema criado pela cultura humana ), há por sito na natureza e em seus fenômenos um valor que transcende as sensações e concepções meramente físicas, a natureza se torna sagrada, seus fenômenos de “mudança” são prenúncios, exortações, iras, bençãos, sempre sinais com valores adicionais ao meramente físico.

NAS ARTES: Para falar de interpretar a arte deve-se perguntar: O quê é arte?  Isto adiante será definido, por enquanto nos contentaremos em distinguir que a arte, assim como os outros tópicos foi dividida no “silêncio” e na “mudança”.

No silêncio – Encontramos a pintura e a escultura já que são artes de formas estáticas, ainda podemos considerar alguns estilos musicais como não tendo movimento ou transformação ( como no cado do MIC ou MFC ), como batucadas repetitivas, ou músicas que têm a função de “mantras” ( Movimento aparente ).

      A arte é a expressão da emotividade humana, e, quando se interpreta uma obra de arte, na verdade, se interpreta a própria emotividade humana que foi a semente para que aquela obra se frutificasse, o que em suma é a mesma coisa que interpelar as mais profundas vivências da pessoa que criou a obra.

      O nível de interpretação de uma obra de arte é variável, é por isto que propus a existência de aprendizes e sensitivos, havendo no interstício destas duas designações uma larga escala de patamares, esta divisão foi estabelecida conforme uma série de valores internos do sujeito que, neste caso, executa a interpretação ( Valores morais, religiosos, espirituais, ideológicos, conceituais ) estes valores são desenvolvidos e formados no decorrer de sua vida, podem ser mais ou menos constituídos conforme como a maneira que este sujeito vive. Por isto não se pode dizer que necessariamente uma pessoa mais velha será sensitiva e a mais nova aprendiz, isto seria uma idéia errada pois tudo dependerá do “modus vivendi”

      Este é o mesmo motivo que leva muitas pessoas a não entenderem o complexo sentido que há numa obra de arte colocando rapidamente uma opinião retrógrada, e taxando logo a obra com qualquer adjetivo oprobrioso. O que ocorre é que estas pessoas não estão suficientemente formadas nos 5 níveis de conhecimento da realidade para interpretar a obra, e emitir um parecer que condiga com a intenção do artista.

       Retomando o tema da música: Estão inseridas também na “mudança” quando os temas musicais sugerem grande variação e emotividade, poder-se-ia dizer que os românticos do séc. XVIII por exemplo sugerem maior “mudança” que os compositores barrocos, tendo em vista que o fim último é sensibilizar ou inflamar o espírito e não embelezar ou florear os ouvidos.

AUTO-INTERPRETAÇÃO – Está tanto na “mudança”quanto no “silêncio”. No silêncio é como percebemos nosso próprio corpo, nossa feição, penteado, formato da boca, também entende-se como silêncio tudo aquilo que se refira às características cíclicas, repetitivas ou sem mudanças, assim como o movimento intelectual cíclico ou movimento físico cíclico. Na maratona portanto, o sensitivo interpreta seu próprio corpo como algo “silencioso”, parado e estático porque é cíclico. É estranho pensar-se que podemos interpretar nossos próprios pensamentos, isto incutiria-nos a idéias de que a mente teria um nível além da atitude normal de pensar. Na verdade ocorre que interpretamos o que pensamos porque o pensamento é um fenômeno, mesmo que seja abstrato; Nós interpretamos o pensamento porque muitas vezes temos opiniões secundárias à respeito de nossas próprias idéias, lembranças, opiniões ou imaginações. Quantas vezes não chegamos a ficar abismados ou extasiados com nossas próprias divagações e idéias? O que isto sugere? Sugere que exista uma auto-interpretação do intelecto e do raciocínio, ou seja: um nível mais forte e personalizado de individualização do pensamento.

      Seria presunção pensar que isto pode ocorrer também com os sentimentos? Creio que sim. Não é viável, pois os sentimentos são ferramentas de contato com a realidade tão intensas que excluem a necessidade de uma interpretação ( interpretação secundária ) Uma pessoa que está realmente furiosa não iria parar para pensar nos motivos que fizeram ela chegar à este ponto, tampouco alguém que está triste irá refletir sobre sua tristeza, mas sim vivenciá-la.

      Assim a auto-interpretação sentimental é inviável, no entanto quando os ímpetos sentimentais se esvaíram pode-se através dos pensamentos e lembranças interpretar não os sentimentos propriamente ditos mas sim a idéia que sobrou deles.

      No final de uma maratona muitos corredores, com eu, se emocionam. Por quê se emocionam? Por causa de uma série de fatores que se aglomeram constituindo um “potencial de inflamação” altíssimo. Em determinado momento, o momento em que se atravessa a linha de chegada, este potencial se transforma em ação, em vivência. Não é apenas carga acumulada, mas sim realidade. Os fatores anteriormente citados estão distribuidos em cada um dos “5NCR” ( Físicos, Intelectuais, sentimentais, Intuitivos e Transcendentais )

      Especificações de cada um, para fins de exemplo, no caso do corredor:

Físicos – A dor que se acumula, a noção perfeita proprioceptiva, a percepção sensível do mundo que o cerca durante a prova, a sensação de domínio completo dos movimentos corporais.

Intelectuais – Estratégia estipulada com antecedência e tomada durante a prova, lembranças de situações de treino, linhas de raciocínio desenvolvidas durante a prova. É interessante frisar que a lembrança em si constitui uma re-vivência.

Sentimentais – Através do físico e do intelecto chega-se aos sentimentos, ou por uma emotividade direta criada por diversas situações durante a prova ( Platéia aplaudindo, subida dificultosa, fato de estar acabando a prova, hino nacional )

Intuitivos – Percepções sugeridas pela criatividade mental, como começar a imaginar que se está correndo nas nuvens, ou que a cada passo o chão cai num abismo de profundidade desconhecida. Podem ou não ser coerentes as idéias intuitivas.

Transcendentais – Sentido sagrado às ocorrências e às coisas, concepção espiritual do mundo que cerca o corredor e à realidade que é vivenciada naquele momento.

      Este potencial de inflamação relaciona-se entre si, e acumula aos poucos até que se constitua uma inflamação do espírito propriamente dita, ou um movimento. A lembrança é uma ferramenta que acessa todos os potenciais de inflamação, não nos esqueçamos que os potenciais de inflamação são a interpretação do conhecimento da realidade, portanto ainda que coincida em suas categorias não são a experiência fenomênica propriamente dita, mas sim a interpretação desta experiência. Assim temos:

5 Níveis de conhecimento da realidade

5 Potenciais de inflamação

      É viável pensar também que o ser humano inevitavelmente interpreta tudo aquilo que experimenta, isto coloca em pauta que os “5NCR” irão se transformar em “5PI” para inflamar o espírito. Este processo pode ser no entanto totalmente abstrato, é o que se passa através da lembrança. Podemos lembrar a dor, o sorrir, o chorar, um determinado raciocínio, um Deus e mudarmos nossa realidade.

      Assim, a auto-interpretação do sensitivo é complexa envolvendo os potenciais de inflamação. ( sensitivo está posto no sentido de uma pessoa sensível aos detalhes que o mundo oferece, não prioritariamente nos sentidos humanos: tato, olfato, paladar... Por isto este termo envolve tanto os sentidos quanto os processos intelectivos e mentais diversos )

      Todos os potenciais de inflamação que ocorrem durante a maratona, até atingir seu ápice de influência sobre o espírito e mudar seu estado ocorreram no “silêncio”, pois a maratona, sendo uma atividade cíclica é considerada como repetitiva e por isto há ausência de “movimento”. O atleta faz a auto-interpretação principalmente através das lembranças, pois, lembrar é extrair coisas externas de si mesmo, estas coisas são por isto mesmo ao mesmo tempo externas e internas.

      Ouvir aplausos, no entanto, é a interpretação de algo que vêm de fora ( na seguinte cadência: percepção – interpretação – assimilação ), por isto deve ser considerado como interpretação do mundo exterior, na parte das pessoas: por isto corporal; Ainda que antes que estas pessoas resolvessem aplaudir elas tiveram de ter ímpetos psíquicos para o fazer, portanto uma vontade sempre vêm antes de um ato físico, e os atos físicos são reflexos da realidade psíquica humana.

      Na mudança a auto-interpretação funciona da mesma maneira, com a distinção que ela representa a percepção da mudança de pensamentos, sentimentos, intuições, ou de experiências e sentidos religiosos. No corporal é a percepção da mudança de seqüências de movimentos, como por exemplo no half-pipe fazer à cada vôo uma manobra diferente, ou no caso do intervall-trainning, ou mesmo no triathlon nos momentos de mudança de esporte.

      Há o fato de que a auto-percepção que ocorre no “silêncio” incita muito mais a lmbrança que a auto-percepção que ocorre na “mudança”, pois os processos de lembrança necessitam de silêncio para serem ativados, precisam da ausência porquê são na verdade uma re-vivência e não somente a recordação de algo que passou como se fosse a leitura de um texto tal como este texto foi escrito ou lido em momento anterior. Isto porque desde que o indivíduo vivenciou aquilo que ele recorda, houve um desenvolvimento de seus 5 níveis de conhecimento da realidade, assim ele não é mais igual ao que era quando vivenciou o que esta recordando. Por isto, quando recorda perpassa a mesma experiência com uma perspectiva intelectual, sentimental, intuitiva, transcendental e até mesmo física diversa. ( seu corpo pode estar diferente ) Podemos até dizer que um treino de corrida é a lembrança física do treino anterior quando se visa fazer o mesmo tipo de treino.

      É uma lembrança física, porém como toda lembrança mental há uma perspectiva diferenciada sobre o mesmo assunto, sobre a mesma vivência, pois o indivíduo melhorou suas qualidades proprioceptivas, suas capacidades físicas como: força, equilíbrio, velocidade, resistência e flexibilidade foram melhoradas e mudam totalmente o entendimento, interpretação e assimilação no contato com a mesma realidade, de modo que o mesmo treino seja igual ele se transforma numa vivência diferente. No caso da lembrança: mesmo que se lembre o mesmo fato várias vezes, cada vez que há invocação da lembrança haverá uma percepção peculiar e personalizada, que será cada vez mais próxima à um ideal de realidade áureo e inesgotável.

      Isto representa uma concepção de lembrança  que deixa a própria suscetível a mudanças de interpretação. Ora, podemos passar por uma situação e pensar sobre ela de um modo, vivenciá-la de maneira específica, depois de um tempo rememorá-la e entendê-la de maneira totalmente diferente. O mesmo ocorre com um livro que lemos em determinada época sem ter o preparo intelectual suficiente para entendê-lo, ou para interpretar da maneira que o autor quis transmitir, podemos ler o mesmo livro depois de certo tempo e entendê-lo de maneira diversa.

      O ser humano se diferencia dos animais, além de pelo fato de possuir um quociente de inteligência levemente mais alto, pela capacidade de lembrar-se, que é o que faz com que possamos travar relações mais complexas com os semelhantes. A definição de relação entre as pessoas pode estar bastante vinculada às lembranças que temos destas pessoas, pois a pessoa passa a existir em nossa mente, é assim que criamos uma “imagem” desta pessoa, que é uma conceituação, uma série de valores abstratos que nos proporcionam uma personalidade específica, portadora de características únicas. A lembrança têm papel fundamental no fato de mantermos as imagens das pessoas dentro de nossas mentes, e quando nos deparamos tal sujeito logo lembramos como ele é ou como não é, a partir disso adotamos uma conduta específica, pois o ser humano se amolda de diferentes maneiras segundo as necessidades que as situações requerem. É por isto que não é completamente errado dizer que a vida é uma interpretação de muitos papéis, de fato, devemos saber nos portar de maneiras específicas para cada situação e para cada tipo de pessoa, do contrário pereceríamos numa dificuldade imensa de adaptação social. É importante neste contexto tentarmos ao máximo desvendar quais são as intenções das pessoas quando tomam determinadas atitudes, ou quando falam certas coisas, pois estamos constantemente interpretando a vida dos outros, no entanto interpretamos segundo nossos parâmetros pessoais e não necessariamente segundo os parâmetros destas pessoas, ou seja: segundo suas verdadeiras intenções, assim está que deve-se ler um livro levando em consideração aquilo que o autor pensou quando escreveu e não somente notando o que esta sendo interpretado pelo lado personalizado, ainda que este seja válido e verdadeiro, é válido e verdadeiro mas não original. ( Original = que teve origem )

      Talvez a função da lembrança seja justamente esta: Fazer com que o homem possa entender o mundo como ele realmente é. A interpretação do mundo e de si mesmo na medida em que o tempo passa, e que o sujeito se desenvolve passando de aprendiz à sensitivo, vai se apurando e se aprimorando de modo que se aproxima cada vez mais da “realidade essencial”. Cada vez mais, pois, conhece-se aquilo que realmente está lá. Se é assim, então,  no início conhecemos apenas a aparência das fenômenos do mundo, e não o que realmente eles querem dizer.

      O corredor aprendiz, já que desenvolveu-se esta linha de raciocínio, não conhece a realidade essencial da corrida, esta é somente conhecida por corredores de longa data, somente estes passaram por sucessivas e infindáveis “lembranças físicas” ( Lembrança não é um retorno ao passado senão uma re-vivência que transpassa no tempo presente )

      A interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo é mais que contato com a realidade, pois é a interpretação deste contato que definimos como potenciais de inflamação, o contato em si não pode inflamar porque não foi interpretado, na realidade não há nada que deixe de ser interpretado, no entanto existem interpretações dúbias, errôneas, medianas ou corretas conforme o nível de aprendiz ou sensitivo que o indivíduo tenha em si.

      O objetivo último do ser humano é interpretar o mundo assim como ele realmente é e não como aparenta ser. É correr a corrida essencial e não a ilusória, no entanto o processo educativo que torna a pessoa sensitiva é árduo e vagaroso, pois envolve não somente educação intelectual ( Filosofia, história, matemática, etc... ) como sentimental e intuitiva ( artes, relações sociais, moral ) e transcendental (  Religiosidade, teologia, fé, mediunidade ) que consiste respectivamente numa educação integral, holística, integrada, inter-disciplinar e vivencial, pois não é um conhecimento abstrato inócuo senão “conhecimento vivencial” posto em prática como parte da vida. É esta justamente a proposta deste livro, formar não uma pessoa ligada à somente uma área das atividades humanas senão um ser humano ciente de todas as suas potencialidades com subsídios teóricos de reflexão, dialética, razão e até hilaridade intelectual para uma abordagem prática de vivência. Não nos esqueçamos que a própria teoria é uma vivência, não separa senão intensifica a vivência prática acrescentando sentido e vasta gama de valores à ela, tornando-a uma experiência mais completa, fazendo com que esta se aproxime mais da vivência ou verdade essencial.

 

Princípio de tudo:

Onde houver uma folha em branco

Onde houver uma tecla à disposição

Onde houver uma corda à ressoar

Onde houver um silêncio...

Haverá vida!

Pois a criação depende de um princípio vazio

Viva a arte!

 

      Haverá alguma energia provincial, que inunda o sábio em momento de suas leituras, me refiro mais precisamente quando lhe vem à tona o cansaço e o sono? E ao corredor quando já se esvaíram suas energias? Como podemos num dado momento sentirmo-nos cansados mental ou fisicamente, e, ainda depois sermos tomados de energia e vontade? A palavra vontade esclarece-nos algo, pois na realidade ela vêm antes da energia, antes uma vontade profunda emerge em nossa consciência, aí então surge a energia necessária para o empreendimento que visamos completar. A música é um fenômeno que têm a proeza de ativar a vontade do ser humano porque das artes ela é a mais abstrata, o “eu” é supostamente abstrato, assim é mais influenciado pela música que pela pintura.

      Uma questão que há muito tempo me assola referente à realidade, e ao contato que temos com a realidade, é a seguinte: Qual é o maior nível de contato com a realidade que pode existir?  Nesta problemática entra justamente o dilema “experiência empírica versus razão, emoção e aspectos inerentes à mente”. Se formos no mínimo coerentes devemos supor que há no contato com o mundo a mistura da experiência empírica e a interpretação dos resultados desta interpretação.

      Esta mistura entre assimilação e interpretação faz com que cada ser humano entenda o mundo de uma maneira distinta, pois,  caso contrário todos entenderiam as experiências do mundo da mesma maneira. Deste modo, ocorre que a corrida têm um sentido específico para min por causa de uma série de interpretações que eu faço dela, estas interpretações estão mediadas por características do psiquismo como: inteligência, emotividade, personalidade, moral. A interpretação do mundo, está pois, sujeita às características psiquicas daquele que interpreta, assim, a “experiência vivencial” pode ser mais ou menos intensa conforme o desenvolvimento psíquico do indivíduo.

      Conclui-se disto que não é correndo mais rápido que terei uma “experiência de corrida” mais intensa, mas sim desenvolvendo minhas características psíquicas. Entende-se por “experiência” o processo de percepção, interpretação e assimilação não ocorre a assimilação por si só, se fosse assim somente seria válida a experiência empírica e o corredor mais rápido ou o que ouve a música mais complexa seriam os que possuem maior contato com o mundo, e o triatleta mais que o corredor levando em consideração a experiência empírica da motricidade humana.

Experiência de contato com o mundo – Captação sensória – Interpretação – Assimilação

      É viável pensar que nossa experiência com a realidade deve sempre passar pelo pensamento, antes que se crie uma concepção definida do fenômeno colocado em pauta. A realidade que conseguimos entender é na verdade uma reconstrução da realidade propriamente dita. Na medida em que o “aprendiz” torna-se um “sensitivo” sua concepção à respeito das mesmas coisas muda de tal maneira que é como se ele conseguisse entender que antes vivia uma ilusão, apoiando-se em coisas que não deveria se apoiar, pisando em solo que julgava seguro, mas somente agora, com sua nova visão ( à respeito das mesmas coisas ) percebe o quanto foi ingênuo. É como um adulto vendo uma criança brincar, e o quanto ela dá valor à seus brinquedos: bonecos de plástico ou cubos de madeira.

      O mundo que nos cerca só irá mudar se acaso nossa psique mudar, pois quem reconstrói a realidade é a psique. O que faz nossa psique mudar e se desenvolver? Esta é uma questão relativamente complexa, seguramente algo poderá ser abordado sobre esta intrigante cogitação: O ambiente logicamente interfere em nossa maneira de viver, o dinheiro que dispomos, os lugares que freqüentamos, os amigos com os quais travamos contato, pode ser feita uma macro e uma micro disposição destes parâmetros: O país em que vivemos, o idioma que falamos são características macro. Tudo isto contribui para a criação e  instituição de determinados hábitos e maneiras de reagir, formas de recepcionar e entender as mais diferentes situações.

      Estas peculiaridades acabam por se firmar e tornar repetitivas, formando hábitos, que são ações que tomamos de maneira rotineira.

      Tudo o que foi dito se refere à uma influência “de fora para dentro”, no entanto existe algo que poucas pessoas param para refletir: um movimento que surge de “dentro para fora”, sendo que o que é considerado como fora é a razão e o dentro é a vontade, a partir do momento que uma “nova vontade” invade a razão forma-se uma “nova idéia”. A palavra chave aqui é: novo, pois para mudar a psique deve haver um movimento diferenciado da vontade que atinja o âmbito racional, pois vontade sozinha é ou intuição ou sentimento.

 

1 – NOVA VONTADE: INTUIÇÃO SENTIMENTO ( CRIATIVIDADE )

2 – RAZÃO

3 – PSIQUE: MUDANÇA DESENVOLVIMENTO

 

      Este é o movimento de “dentro para fora”, ou seja: da nova vontade à razão, ao contrário das atividades que eram formadas através das vivências externas: trabalho, amigos, família. O que foi definido como “fora para dentro”.

      Acreditando nesta outra concepção ( DF ) colocamos nas mãos do ser humano a responsabilidade, ou parte desta responsabilidade por seu próprio destino. É de certa forma triste senão até medonho supor que o ambiente e as circunstâncias são o que definirá completamente o destino do ser humano, que sejam estas as circunstâncias únicas no destino do ser.

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