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- Interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo
O segredo da
intuição do sensitivo está em saber interpretar da maneira concisa cada um
destes sinais. A importância de todos os processos fenomênicos ( pessoas,
paisagens, e artes ) é sensibilizar a alma, provocando o movimento da alma
através dos 5 níveis de conhecimento da realidade, que constituem ferramentas
para o contato com a realidade, é notável ainda pensar que aquele que está
sentado no teatro não participa da peça.
Seguindo no
assunto que havíamos discorrido anteriormente, iremos tentar aprofundar este
assunto especificando alguns de seus possíveis detalhes.
O sub-título
aqui exposto, sugere que haja no mundo diferentes maneiras de interpretar o
mundo, que estão situadas numa ordem progressiva de desenvolvimento, de modo
que existe a interpretação mais grosseira e tosca ( do aprendiz ) e a mais
sutil e detalhada. ( do sensitivo )
Disse antes
que era impossível definir com exatidão como funciona o método interpretativo
do sensitivo, no entanto é nesta senda que iremos arriscadamente entrar. A
dificuldade em definir o modo de interpretação do sensitivo, é que este depende
muito dos fatores intuitivos para interpretar o mundo ao seu redor, ao
contrário do aprendiz que está ainda num dos primeiros 3 estágios de nossa
escala de conhecimento da realidade. A partir do nível de intuição inicia-se a
formação do sensitivo, a interpretação intuitiva do mundo não pode ser
inteiramente explicada, por este ser um processo totalmente maleável,
dependente de circunstâncias variadas, estas que se relacionam com os valores
de imaginação, crenças, moral e fé. No entanto será exposto o que se julga como
básico no que se refere à interpretação sensitiva das fenomenologias do
mundo; É necessário antes que se iniciem os sub-tópicos, que se elucide que
há a auto-interpretação e a interpretação do mundo exterior.
ISFM –
Quando se interpreta as ações que outras pessoas tomam, o que elas falam, a
maneira como elas se portam diante do que as circunstâncias do mundo lhe impõe.
A interpretação de suas formas, cor de seus olhos, tamanho, peso, beleza
estética ( que pode ser feita mediante variados parâmetros ) maneira de vestir,
de andar. Pois tudo, sem exceção, faz parte do ser.
É bastante
complexo o intento de realizar uma divisão das coisas que podem ser
interpretadas no mundo, no entanto espero colocar de maneira simplificada as
idéias que desejo transmitir. Ainda perseveram aqui os conceitos de mudança
e silêncio ( Definidos no tópico: Sobre o movimento pela idéia. ). As
fenomenologias ou coisas que podem ser sentidas, percebidas, experimentadas
e conhecidas foram divididas em fenomenologias na mudança e no silêncio;
Como antes, a mudança é aquilo que muda de um estado à outro, o silêncio é
aquilo que permanece inalterado. Os dois são características que fazem parte do
mundo. Conforme a tabela, existe a auto-interpretação na mudança e no silêncio.
Vamos, para facilitar, explicar um por um dos termos.
Na mudança: A auto-interpretação corporal, é o
entendimento do que ocorre com o corpo nos momentos de mudança, ou movimento
físico irregular, ou com os pensamentos no caso do movimento intelectual
irregular, não nos esqueçamos que tudo o que é cíclico seja pensamento ou
movimento são categorias pertencentes ao silêncio.
Metáfora
do teatro: Tudo
se passa como se nos encontrássemos diante de um teatro vazio ( o mundo ), no
camarim podemos ver e conhecer todas as roupas, podemos ver como é o cenário,
ou mesmo como é a iluminação do palco, no entanto a peça ainda não começou, por
isto estamos no “silêncio”, não sabemos como exatamente será representada a
peça, ainda que possamos ter lido uma breve sinopse dela ( Que são
respectivamente as filosofias perenes do mundo ). Somente assistindo à peça
apreciamos as mudanças e movimentos ocorridos.
Podemos
conhecer o mundo percebendo suas características mutáveis e imutáveis, isto
ocorre no que se refere à uma série de coisas como: nós mesmos, pessoas,
paisagens ou artes.
NAS PESSOAS: Podemos interpretar suas formas ou
morfologias: Cor do cabelo, penteado, corpo ou biotipo, formato e
posicionamento dos sobrolhos, cor dos olhos, formato do nariz e da orelha. Não
só isto, como também o que nelas se passa na “mudança”: maneira como direcionam
o olhar, relação entre o que falam e o direcionamento do olhar, maneira de
andar ou correr, maneira como movimentam os sobrolhos, maneira como inspiram ou
expiram e em quais momentos fazem isto mais intensamente, as atitudes que elas
tomam, a maneira peculiar ou não como movimentam as mãos. Todos estes, tanto no
silêncio ( formas ) quanto na mudança ( transformações ) são aspectos
interpretados pelos sensitivos de maneira profunda e análoga à uma percepção
pragmática ou óbvia. Os detalhes mais minuciosos possuem em si valores
específicos, que devem ser reconhecidos por aquele que deseja conhecer a
realidade em seu contexto integral, por isto justamente foi criado tal modo de
análise da realidade, para reconhecer seus valores reais, do contrário
ficaríamos restritos à informações básicas e óbvias, que podem, se sendo os
únicos alicerces de nossa percepção se insulficientes para descrever a
realidade essencial, ficaríamos assim num “mundo de máscaras”.
NAS PAISAGENS: Temos como características de
“silêncio” as formas do mundo, incluindo formas construídas pelo homem como
edifícios, pontes, torres, ruas, casas
etc... ou formas naturais como: planícies, montanhas, horizontes, lagos, mares
ou tudo aquilo que possa constituir
parte de uma paisagem. Na “mudança” temos aquilo que se movimenta (
sendo fundamental que além de ter o potencial de se movimentar esteja em
movimento ), no contexto da paisagem pode ser: o vento, chuvas, uma carroça,
carro, trator, caminhões, uma hidroelétrica, um avião ou animais O que estiver
dentro da paisagem e se movimentar faz com que a paisagem esteja em movimento.
É importante frisar que o objetivo último da realidade é sensibilizar a
alma. ( tal como da peça de teatro )
Por isto o
sensitivo dá um valor aos fenômenos da natureza diferente do que o que é dado
pelos aprendizes, de maneira que se o sensitivo é aquele que completou os 5
níveis de conhecimento da realidade, inserindo o nível transcendental ( ou
religioso, porquanto podemos julgar estas duas palavras como similares ainda
que há uma diferença gigante entre as duas: religião pode ser traduzido como
religação com Deus, mas na maioria das vezes é mais correto dizer que significa
um sistema de crenças específicas no qual se impregna um caráter de divisão de
poderes com várias hierarquias; Por outro lado espiritualidade independe de
religião, podem-se encontrar médiuns em qualquer seita, pois a potencialidade
de contato com deus é antes uma naturalidade humana que um sistema criado pela
cultura humana ), há por sito na natureza e em seus fenômenos um valor que
transcende as sensações e concepções meramente físicas, a natureza se torna
sagrada, seus fenômenos de “mudança” são prenúncios, exortações, iras, bençãos,
sempre sinais com valores adicionais ao meramente físico.
NAS ARTES: Para falar de interpretar a arte deve-se
perguntar: O quê é arte? Isto adiante
será definido, por enquanto nos contentaremos em distinguir que a arte, assim
como os outros tópicos foi dividida no “silêncio” e na “mudança”.
No silêncio – Encontramos a pintura e a
escultura já que são artes de formas estáticas, ainda podemos considerar alguns
estilos musicais como não tendo movimento ou transformação ( como no cado do
MIC ou MFC ), como batucadas repetitivas, ou músicas que têm a função de
“mantras” ( Movimento aparente ).
A arte é a
expressão da emotividade humana, e, quando se interpreta uma obra de arte, na
verdade, se interpreta a própria emotividade humana que foi a semente para que
aquela obra se frutificasse, o que em suma é a mesma coisa que interpelar as
mais profundas vivências da pessoa que criou a obra.
O nível de
interpretação de uma obra de arte é variável, é por isto que propus a
existência de aprendizes e sensitivos, havendo no interstício destas duas
designações uma larga escala de patamares, esta divisão foi estabelecida
conforme uma série de valores internos do sujeito que, neste caso,
executa a interpretação ( Valores morais, religiosos, espirituais, ideológicos,
conceituais ) estes valores são desenvolvidos e formados no decorrer de sua
vida, podem ser mais ou menos constituídos conforme como a maneira que este
sujeito vive. Por isto não se pode dizer que necessariamente uma pessoa mais
velha será sensitiva e a mais nova aprendiz, isto seria uma idéia errada pois
tudo dependerá do “modus vivendi”
Este é o mesmo
motivo que leva muitas pessoas a não entenderem o complexo sentido que há numa
obra de arte colocando rapidamente uma opinião retrógrada, e taxando logo a
obra com qualquer adjetivo oprobrioso. O que ocorre é que estas pessoas não
estão suficientemente formadas nos 5 níveis de conhecimento da realidade para
interpretar a obra, e emitir um parecer que condiga com a intenção do artista.
Retomando o
tema da música: Estão inseridas também na “mudança” quando os temas musicais
sugerem grande variação e emotividade, poder-se-ia dizer que os românticos do
séc. XVIII por exemplo sugerem maior “mudança” que os compositores barrocos,
tendo em vista que o fim último é sensibilizar ou inflamar o espírito e não
embelezar ou florear os ouvidos.
AUTO-INTERPRETAÇÃO – Está tanto na “mudança”quanto
no “silêncio”. No silêncio é como percebemos nosso próprio corpo, nossa feição,
penteado, formato da boca, também entende-se como silêncio tudo aquilo que se
refira às características cíclicas, repetitivas ou sem mudanças, assim como o
movimento intelectual cíclico ou movimento físico cíclico. Na maratona
portanto, o sensitivo interpreta seu próprio corpo como algo “silencioso”,
parado e estático porque é cíclico. É estranho pensar-se que podemos
interpretar nossos próprios pensamentos, isto incutiria-nos a idéias de que a
mente teria um nível além da atitude normal de pensar. Na verdade ocorre
que interpretamos o que pensamos porque o pensamento é um fenômeno, mesmo que
seja abstrato; Nós interpretamos o pensamento porque muitas vezes temos
opiniões secundárias à respeito de nossas próprias idéias, lembranças, opiniões
ou imaginações. Quantas vezes não chegamos a ficar abismados ou extasiados com
nossas próprias divagações e idéias? O que isto sugere? Sugere que exista uma
auto-interpretação do intelecto e do raciocínio, ou seja: um nível mais forte e
personalizado de individualização do pensamento.
Seria
presunção pensar que isto pode ocorrer também com os sentimentos? Creio que
sim. Não é viável, pois os sentimentos são ferramentas de contato com a
realidade tão intensas que excluem a necessidade de uma interpretação (
interpretação secundária ) Uma pessoa que está realmente furiosa não iria parar
para pensar nos motivos que fizeram ela chegar à este ponto, tampouco alguém
que está triste irá refletir sobre sua tristeza, mas sim vivenciá-la.
Assim a
auto-interpretação sentimental é inviável, no entanto quando os ímpetos
sentimentais se esvaíram pode-se através dos pensamentos e lembranças
interpretar não os sentimentos propriamente ditos mas sim a idéia que sobrou
deles.
No final de
uma maratona muitos corredores, com eu, se emocionam. Por quê se emocionam? Por
causa de uma série de fatores que se aglomeram constituindo um “potencial de
inflamação” altíssimo. Em determinado momento, o momento em que se
atravessa a linha de chegada, este potencial se transforma em ação, em
vivência. Não é apenas carga acumulada, mas sim realidade. Os fatores
anteriormente citados estão distribuidos em cada um dos “5NCR” (
Físicos, Intelectuais, sentimentais, Intuitivos e Transcendentais )
Especificações
de cada um, para fins de exemplo, no caso do corredor:
Físicos – A dor que se acumula, a noção perfeita
proprioceptiva, a percepção sensível do mundo que o cerca durante a prova, a
sensação de domínio completo dos movimentos corporais.
Intelectuais – Estratégia estipulada com
antecedência e tomada durante a prova, lembranças de situações de treino,
linhas de raciocínio desenvolvidas durante a prova. É interessante frisar que a
lembrança em si constitui uma re-vivência.
Sentimentais – Através do físico e do intelecto
chega-se aos sentimentos, ou por uma emotividade direta criada por diversas
situações durante a prova ( Platéia aplaudindo, subida dificultosa, fato de
estar acabando a prova, hino nacional )
Intuitivos – Percepções sugeridas pela criatividade
mental, como começar a imaginar que se está correndo nas nuvens, ou que a cada
passo o chão cai num abismo de profundidade desconhecida. Podem ou não ser
coerentes as idéias intuitivas.
Transcendentais – Sentido sagrado às ocorrências e
às coisas, concepção espiritual do mundo que cerca o corredor e à realidade que
é vivenciada naquele momento.
Este potencial
de inflamação relaciona-se entre si, e acumula aos poucos até que se constitua
uma inflamação do espírito propriamente dita, ou um movimento. A lembrança é
uma ferramenta que acessa todos os potenciais de inflamação, não nos esqueçamos
que os potenciais de inflamação são a interpretação do conhecimento da
realidade, portanto ainda que coincida em suas categorias não são a
experiência fenomênica propriamente dita, mas sim a interpretação desta
experiência. Assim temos:
5 Níveis de
conhecimento da realidade
5 Potenciais de
inflamação
É viável
pensar também que o ser humano inevitavelmente interpreta tudo aquilo que
experimenta, isto coloca em pauta que os “5NCR” irão se transformar em “5PI”
para inflamar o espírito. Este processo pode ser no entanto totalmente
abstrato, é o que se passa através da lembrança. Podemos lembrar a dor, o
sorrir, o chorar, um determinado raciocínio, um Deus e mudarmos nossa
realidade.
Assim, a
auto-interpretação do sensitivo é complexa envolvendo os potenciais de
inflamação. ( sensitivo está posto no sentido de uma pessoa sensível aos
detalhes que o mundo oferece, não prioritariamente nos sentidos humanos: tato,
olfato, paladar... Por isto este termo envolve tanto os sentidos quanto os
processos intelectivos e mentais diversos )
Todos os
potenciais de inflamação que ocorrem durante a maratona, até atingir seu ápice
de influência sobre o espírito e mudar seu estado ocorreram no “silêncio”, pois
a maratona, sendo uma atividade cíclica é considerada como repetitiva e por
isto há ausência de “movimento”. O atleta faz a auto-interpretação
principalmente através das lembranças, pois, lembrar é extrair coisas
externas de si mesmo, estas coisas são por isto mesmo ao mesmo tempo externas e
internas.
Ouvir
aplausos, no entanto, é a interpretação de algo que vêm de fora ( na seguinte
cadência: percepção – interpretação – assimilação ), por isto deve ser
considerado como interpretação do mundo exterior, na parte das pessoas: por
isto corporal; Ainda que antes que estas pessoas resolvessem aplaudir elas
tiveram de ter ímpetos psíquicos para o fazer, portanto uma vontade sempre vêm
antes de um ato físico, e os atos físicos são reflexos da realidade psíquica humana.
Na mudança a
auto-interpretação funciona da mesma maneira, com a distinção que ela
representa a percepção da mudança de pensamentos, sentimentos, intuições, ou de
experiências e sentidos religiosos. No corporal é a percepção da mudança de
seqüências de movimentos, como por exemplo no half-pipe fazer à cada vôo uma
manobra diferente, ou no caso do intervall-trainning, ou mesmo no triathlon nos
momentos de mudança de esporte.
Há o fato de
que a auto-percepção que ocorre no “silêncio” incita muito mais a lmbrança que
a auto-percepção que ocorre na “mudança”, pois os processos de lembrança
necessitam de silêncio para serem ativados, precisam da ausência porquê são na
verdade uma re-vivência e não somente a recordação de algo que passou como se
fosse a leitura de um texto tal como este texto foi escrito ou lido em momento
anterior. Isto porque desde que o indivíduo vivenciou aquilo que ele recorda,
houve um desenvolvimento de seus 5 níveis de conhecimento da realidade,
assim ele não é mais igual ao que era quando vivenciou o que esta recordando.
Por isto, quando recorda perpassa a mesma experiência com uma perspectiva
intelectual, sentimental, intuitiva, transcendental e até mesmo física diversa.
( seu corpo pode estar diferente ) Podemos até dizer que um treino de corrida é
a lembrança física do treino anterior quando se visa fazer o mesmo tipo de
treino.
É uma
lembrança física, porém como toda lembrança mental há uma perspectiva
diferenciada sobre o mesmo assunto, sobre a mesma vivência, pois o indivíduo
melhorou suas qualidades proprioceptivas, suas capacidades físicas como: força,
equilíbrio, velocidade, resistência e flexibilidade foram melhoradas e mudam
totalmente o entendimento, interpretação e assimilação no contato com a mesma
realidade, de modo que o mesmo treino seja igual ele se transforma numa vivência
diferente. No caso da lembrança: mesmo que se lembre o mesmo fato várias
vezes, cada vez que há invocação da lembrança haverá uma percepção peculiar e
personalizada, que será cada vez mais próxima à um ideal de realidade áureo e
inesgotável.
Isto
representa uma concepção de lembrança
que deixa a própria suscetível a mudanças de interpretação. Ora, podemos
passar por uma situação e pensar sobre ela de um modo, vivenciá-la de maneira
específica, depois de um tempo rememorá-la e entendê-la de maneira totalmente
diferente. O mesmo ocorre com um livro que lemos em determinada época sem ter o
preparo intelectual suficiente para entendê-lo, ou para interpretar da maneira
que o autor quis transmitir, podemos ler o mesmo livro depois de certo tempo e
entendê-lo de maneira diversa.
O ser humano
se diferencia dos animais, além de pelo fato de possuir um quociente de
inteligência levemente mais alto, pela capacidade de lembrar-se, que é o que
faz com que possamos travar relações mais complexas com os semelhantes. A
definição de relação entre as pessoas pode estar bastante vinculada às
lembranças que temos destas pessoas, pois a pessoa passa a existir em nossa
mente, é assim que criamos uma “imagem” desta pessoa, que é uma conceituação,
uma série de valores abstratos que nos proporcionam uma personalidade
específica, portadora de características únicas. A lembrança têm papel
fundamental no fato de mantermos as imagens das pessoas dentro de nossas
mentes, e quando nos deparamos tal sujeito logo lembramos como ele é ou como
não é, a partir disso adotamos uma conduta específica, pois o ser humano se
amolda de diferentes maneiras segundo as necessidades que as situações
requerem. É por isto que não é completamente errado dizer que a vida é uma
interpretação de muitos papéis, de fato, devemos saber nos portar de maneiras
específicas para cada situação e para cada tipo de pessoa, do contrário
pereceríamos numa dificuldade imensa de adaptação social. É importante neste
contexto tentarmos ao máximo desvendar quais são as intenções das pessoas
quando tomam determinadas atitudes, ou quando falam certas coisas, pois estamos
constantemente interpretando a vida dos outros, no entanto interpretamos
segundo nossos parâmetros pessoais e não necessariamente segundo os parâmetros
destas pessoas, ou seja: segundo suas verdadeiras intenções, assim está que
deve-se ler um livro levando em consideração aquilo que o autor pensou quando
escreveu e não somente notando o que esta sendo interpretado pelo lado
personalizado, ainda que este seja válido e verdadeiro, é válido e verdadeiro
mas não original. ( Original = que teve origem )
Talvez a
função da lembrança seja justamente esta: Fazer com que o homem possa entender
o mundo como ele realmente é. A interpretação do mundo e de si mesmo na
medida em que o tempo passa, e que o sujeito se desenvolve passando de aprendiz
à sensitivo, vai se apurando e se aprimorando de modo que se aproxima cada vez
mais da “realidade essencial”. Cada vez mais, pois, conhece-se aquilo
que realmente está lá. Se é assim, então,
no início conhecemos apenas a aparência das fenômenos do mundo, e não o
que realmente eles querem dizer.
O corredor
aprendiz, já que desenvolveu-se esta linha de raciocínio, não conhece a
realidade essencial da corrida, esta é somente conhecida por corredores de
longa data, somente estes passaram por sucessivas e infindáveis “lembranças
físicas” ( Lembrança não é um retorno ao passado senão uma re-vivência que
transpassa no tempo presente )
A
interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo é mais que contato com a
realidade, pois é a interpretação deste contato que definimos como potenciais
de inflamação, o contato em si não pode inflamar porque não foi interpretado,
na realidade não há nada que deixe de ser interpretado, no entanto existem
interpretações dúbias, errôneas, medianas ou corretas conforme o nível de
aprendiz ou sensitivo que o indivíduo tenha em si.
O objetivo
último do ser humano é interpretar o mundo assim como ele realmente é e não
como aparenta ser. É correr a corrida essencial e não a ilusória, no entanto o
processo educativo que torna a pessoa sensitiva é árduo e vagaroso, pois
envolve não somente educação intelectual ( Filosofia, história, matemática,
etc... ) como sentimental e intuitiva ( artes, relações sociais, moral ) e
transcendental ( Religiosidade, teologia,
fé, mediunidade ) que consiste respectivamente numa educação integral, holística,
integrada, inter-disciplinar e vivencial, pois não é um conhecimento abstrato
inócuo senão “conhecimento vivencial” posto em prática como parte da
vida. É esta justamente a proposta deste livro, formar não uma pessoa ligada à
somente uma área das atividades humanas senão um ser humano ciente de todas as
suas potencialidades com subsídios teóricos de reflexão, dialética, razão e até
hilaridade intelectual para uma abordagem prática de vivência. Não nos
esqueçamos que a própria teoria é uma vivência, não separa senão intensifica a
vivência prática acrescentando sentido e vasta gama de valores à ela,
tornando-a uma experiência mais completa, fazendo com que esta se aproxime mais
da vivência ou verdade essencial.
Princípio de tudo:
Onde houver uma folha em branco
Onde houver uma tecla à disposição
Onde houver uma corda à ressoar
Onde houver um silêncio...
Haverá vida!
Pois a criação depende de um princípio vazio
Viva a arte!
Haverá alguma
energia provincial, que inunda o sábio em momento de suas leituras, me refiro
mais precisamente quando lhe vem à tona o cansaço e o sono? E ao corredor
quando já se esvaíram suas energias? Como podemos num dado momento sentirmo-nos
cansados mental ou fisicamente, e, ainda depois sermos tomados de energia e
vontade? A palavra vontade esclarece-nos algo, pois na realidade ela vêm antes
da energia, antes uma vontade profunda emerge em nossa consciência, aí então
surge a energia necessária para o empreendimento que visamos completar. A
música é um fenômeno que têm a proeza de ativar a vontade do ser humano porque
das artes ela é a mais abstrata, o “eu” é supostamente abstrato, assim é mais
influenciado pela música que pela pintura.
Uma questão
que há muito tempo me assola referente à realidade, e ao contato que temos com
a realidade, é a seguinte: Qual é o maior nível de contato com a realidade que
pode existir? Nesta problemática entra
justamente o dilema “experiência empírica versus razão, emoção e aspectos
inerentes à mente”. Se formos no mínimo coerentes devemos supor que há no
contato com o mundo a mistura da experiência empírica e a interpretação dos
resultados desta interpretação.
Esta mistura
entre assimilação e interpretação faz com que cada ser humano
entenda o mundo de uma maneira distinta, pois,
caso contrário todos entenderiam as experiências do mundo da mesma
maneira. Deste modo, ocorre que a corrida têm um sentido específico para min
por causa de uma série de interpretações que eu faço dela, estas
interpretações estão mediadas por características do psiquismo como:
inteligência, emotividade, personalidade, moral. A interpretação do mundo,
está pois, sujeita às características psiquicas daquele que interpreta, assim,
a “experiência vivencial” pode ser mais ou menos intensa conforme o
desenvolvimento psíquico do indivíduo.
Conclui-se
disto que não é correndo mais rápido que terei uma “experiência de corrida”
mais intensa, mas sim desenvolvendo minhas características psíquicas. Entende-se
por “experiência” o processo de percepção, interpretação e assimilação não
ocorre a assimilação por si só, se fosse assim somente seria válida a
experiência empírica e o corredor mais rápido ou o que ouve a música mais
complexa seriam os que possuem maior contato com o mundo, e o triatleta mais
que o corredor levando em consideração a experiência empírica da motricidade
humana.
Experiência de
contato com o mundo – Captação sensória – Interpretação – Assimilação
É viável
pensar que nossa experiência com a realidade deve sempre passar pelo
pensamento, antes que se crie uma concepção definida do fenômeno colocado em
pauta. A realidade que conseguimos entender é na verdade uma reconstrução da
realidade propriamente dita. Na medida em que o “aprendiz” torna-se um
“sensitivo” sua concepção à respeito das mesmas coisas muda de tal maneira que
é como se ele conseguisse entender que antes vivia uma ilusão, apoiando-se em
coisas que não deveria se apoiar, pisando em solo que julgava seguro, mas
somente agora, com sua nova visão ( à respeito das mesmas coisas ) percebe o
quanto foi ingênuo. É como um adulto vendo uma criança brincar, e o quanto ela
dá valor à seus brinquedos: bonecos de plástico ou cubos de madeira.
O mundo que
nos cerca só irá mudar se acaso nossa psique mudar, pois quem reconstrói a
realidade é a psique. O que faz nossa psique mudar e se desenvolver? Esta é uma
questão relativamente complexa, seguramente algo poderá ser abordado sobre esta
intrigante cogitação: O ambiente logicamente interfere em nossa maneira de
viver, o dinheiro que dispomos, os lugares que freqüentamos, os amigos com os
quais travamos contato, pode ser feita uma macro e uma micro disposição destes
parâmetros: O país em que vivemos, o idioma que falamos são características
macro. Tudo isto contribui para a criação e
instituição de determinados hábitos e maneiras de reagir, formas de
recepcionar e entender as mais diferentes situações.
Estas
peculiaridades acabam por se firmar e tornar repetitivas, formando hábitos, que
são ações que tomamos de maneira rotineira.
Tudo o que foi
dito se refere à uma influência “de fora para dentro”, no entanto existe
algo que poucas pessoas param para refletir: um movimento que surge de “dentro
para fora”, sendo que o que é considerado como fora é a razão e o dentro
é a vontade, a partir do momento que uma “nova vontade” invade a
razão forma-se uma “nova idéia”. A palavra chave aqui é: novo, pois para
mudar a psique deve haver um movimento diferenciado da vontade que atinja o
âmbito racional, pois vontade sozinha é ou intuição ou sentimento.
1 – NOVA VONTADE: INTUIÇÃO SENTIMENTO ( CRIATIVIDADE )
2 – RAZÃO
3 – PSIQUE: MUDANÇA DESENVOLVIMENTO
Este é
o movimento de “dentro para fora”, ou seja: da nova vontade à razão, ao
contrário das atividades que eram formadas através das vivências externas:
trabalho, amigos, família. O que foi definido como “fora para dentro”.
Acreditando
nesta outra concepção ( DF ) colocamos nas mãos do ser humano a
responsabilidade, ou parte desta responsabilidade por seu próprio destino. É de
certa forma triste senão até medonho supor que o ambiente e as circunstâncias
são o que definirá completamente o destino do ser humano, que sejam estas as
circunstâncias únicas no destino do ser.
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