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- Sobre o movimento pela idéia
A arte é reflexo da vida
A corrida é um reflexo do pensamento
A arte é a expressão da vida
A corrida é a expressão do pensamento
A arte é a vida
A corrida é o pensamento
Estes versos
expressam de maneira interessante o fato de que coisas diferentes podem ser na
realidade a mesma coisa, do mesmo modo que coisas iguais podem ser coisas
diferentes. Exemplo: Quando em geral um “gentlerman” está entretido com um
problema intelectual específico, ou mesmo encucado com uma problemática
qualquer, que deve resolver, o que faz em geral é simplesmente andar de um
lado à outro; Quê significa isto? Por quê anda? Por quê não pensa estando
parado? Andar ajuda a pensar? Andar é pensar? Ocorre ainda que se a linha de
seu pensamento muda, ou encontra outro problema pela frente, ele para de
repente.
É
impressionante imaginarmos o quão íntima é a relação entre o pensamento e a
atividade física, pensamento é o movimento do intelecto, atividade
física é o movimento do corpo no espaço. Se o corpo se movimenta no espaço:
Onde se movimenta o pensamento? O que significa realmente este movimento?
Movimento é a
mudança de algo de uma forma à outra, o surgimento de uma nova idéia constitui
um movimento ou mudança. O corpo se movimenta no espaço porque ora está num
lugar ora noutro. Conclui-se logo que os dois se movimentam, assim sendo: são
a mesma coisa com expressões diferentes. Temos então:
Movimento intelectual ( Surgimento de novas idéias )
Movimento físico ( Deslocamento no espaço à um novo
lugar )
Entretanto se
a atitude é a mesma, é como se não houvesse movimento. A maratona, pois, sendo
uma cadência de movimentos cíclicos representa a própria ausência de
movimentos, pode soar estranho numa primeira instância este termo, no
entanto o movimento é a mudança e não há mudança em algo que se repete
continuamente como em uma passada após a outra. Se acaso, por exemplo, o
corredor faz um treino intervalado, intercalando tiros de 400 mts. com 400 mts.
de caminhada nota-se que há mudança, neste caso: sim, podemos afirmar que há
movimento propriamente dito. Deste modo dizemos que o movimento cíclico é um
movimento aparente, que ocorre apenas no campo fenomênico e não no campo
das essências primordiais de nossos conceitos. Podemos ainda dividir o
movimento físico em cíclico e irregular, sendo que somente o irregular (
exemplo: triatlon, ou treino intervalado ) é considerado como movimento.
No caso do
pensamento ocorre o mesmo, já que pensamentos repetitivos ou um não progresso
das idéias representam uma estagnação, quando surgem novas idéias há o
movimento.
Assim, estes
dois âmbitos da realidade se relacionam de maneira inesperada, e isto é bastante visível quando visto o exemplo
anterior do “gentlerman” que anda de forma cíclica de um lado à outro de sua
sala ( como no início de um dos livros de Júlio Verne ) E... quando
repentinamente insurge uma solução ou uma nova idéia em sua mente ele para de
repente saindo do movimento cíclico e entrando no movimento irregular
que poderiamos definir como verdadeiro movimento, que nada mais é que a
mudança de estados ideológicos ou físicos.
Movimento físico cíclico ( Ciclo igualitário de
movimento )
Movimento físico irregular ( Movimento verdadeiro )
Movimento intelectual cíclico ( Estagnação das idéias )
Movimento intelectual irregular ( Novas idéias
)
Não cogitou-se
ainda que estar parado é um estado de “ser” físico, porque o sujeito
existe, têm um corpo, e percebe seu corpo mesmo estando parado, e se, antes
havíamos definido o movimento físico cíclico como um ciclo igualitário de
movimento, ou mesmo a ausência de mudanças podemos colocar o estar parado
na mesma concepção, mesmo que neste caso não haja um movimento físico, isto
porque a percepção da monotonia da ausência de movimentos e dos
movimentos cíclicos é absolutamente a mesma, portanto é evidente que haveríamos
de encontrar um termo mais adequado que pudesse enquadrar as duas categorias.
Este termo será simplesmente: “Silêncio”.
Assim temos:
SILÊNCIO = ( Estar parado )
Movimento Físico
Cíclico ( MFC )
Movimento
Intelectual Cíclico ( MIC )
É importante
ressaltar que as idéias perpassam nossas mentes no campo racional. Quê dizer da
música? A música é o instrumento que faz o movimento do espírito chegando aos
sentimentos, o que é um nível superior em realização humana e conhecimento da
realidade, pois o conhecimento da realidade pode ser dividido de várias
maneiras, com algum esforço procurarei uma delas:
MUDANÇA =
Movimento do Espírito ( Sentimentos )
Movimento Físico
Irregular ( MFI )
Movimento intelectual
Irregular ( MII )
Assim, como no
MFC e MIC acrescentamos a categoria de estar parado como uma espécie do
movimento cíclico, porque todos estes representavam um contingente
“silencioso”, fizemos com que no outro grupo, o do MFI e MII fosse acrescida a
categoria movimento do espírito, que pode não ser um movimento aparente,
mas que, na alma daquele que interpreta uma música, compõe uma obra de artes
plásticas, ou mesmo aprecia uma peça de teatro há um movimento de âmbitos que
transcendem a simples razão, ou o simples ato de pensar. Perto das artes e
do movimento do espírito, os mais elaborados processos racionais tornam-se
pequeninos como um grão de arroz perto de uma intrincada e suntuosa selva.
O grão de arroz, aliás, perde-se na selva, e ainda pode cair na terra que dela
faz parte nascendo mais uma planta que se integra à selva. Aliás, é cabível
esta metáfora, pois a razão e o intelecto perdem-se de tal forma dentro dos
sentimentos de imponência, sutileza e enaltecimentos artísticos ( ou se
preferirem: humanos ) que acabam por formar parte deles, de forma que não se
encontra mais a razão, ela simplesmente se integrou à emotividade.
Na vida
passamos pelos dois tipos de situações ( silêncio e mudança ) há momentos em que a vida parece não ter
muitas mudanças, neste caso pode haver uma ausência de movimento do espírito;
Seria como uma indiferença aos estados sentimentais ( ou ao movimento que leva
à eles ) ou ainda um movimento do espírito negativo, que condiz com sentimentos
negativos. O que não será nesta lauda enfatizado por não conter quaisquer importâncias
para os bons homens, o mal em si seria como uma sombra, esta sombra pode
recair em todas as categorias do silêncio como da mudança tornando-as obscuras,
o mal portanto não têm o seu lugar, é simplesmente uma sombra inócua, por isto
é ilusória, por não ter uma morada depende da fraqueza humana para se instalar
nos lugares onde há o conceito ou de silêncio ou de mudança.
O MII seria
por certo obumbrado por idéias malévolas, no entanto ainda iria constituir um
movimento intelectual irregular ( uma mudança de idéias, talvez o surgimento de
uma idéia terrificante seja um exemplo disto )
No caso de
conhecimento dos diversos níveis de realidade, havíamos nos afastado deste
assunto. Existem 5 níveis: ( 5
estados de conhecimento da realidade )
1 – Físico
2 – Intelectual / Racional
3 – Sentimental
4 – Intuitivo
5 – Transcendental
Através de uma
maratona podemos atravessar um a um ( acumulando-os ) para finalmente chegar ao
último, ainda há a ressalva que cada um deste 5 níveis possui uma divisão
progressiva interna. Vamos vê-los:
1 - Físico = MFC / MFI / Estar Parado
2 - Intelectual / Racional = Conhecer a
realidade através de processos de interpretação racional ou lógica, chegando à
novos conceitos indefinidamente.
Na corrida, o
processo de recordação de qualquer coisa: que seja uma situação que não envolva
sentimentos é intelectual, entretanto não podemos nos enganar pois o intelecto
esta relacionado e interligado com os sentimentos, se é assim pois, pode-se
recordar uma música ou situação que envolva outras pessoas e emocionar-se. A
recordação é um processo intelectual, pode-se recordar situações que nos
levaram ao sentimento, o racional é um caminho ao sentimental. A recordação é
uma nova vivência do passado.
3 -
Sentimental = Devemos
convir que todos os 5 termos postos em pauta estão relacionados entre si, de
maneira que em conjunto forma-se um todo que se denomina “eu”. Assim o
sentimental pode ter como origem o intelectual ou provir diretamente do físico.
Mesmo que estes termos estejam unidos formando o “eu” é viável pensar que haja
uma hierarquia entre eles de modo que se distingüam em categorias mais ou menos
primitivas, sendo mais ou menos elevadas conforme o nível de realidade que
permitem conhecer. Estão postos evidentemente na ordem que se julgou mais
conveniente segundo estes preceitos.
Quanto mais
o ser humano se aprimora dentro deste sistema teórico tão sucinto, mais ele
acredita ser o mundo fenomênico simples e supérfluo, sendo que passa a dar
mais valor proporcionalmente ao que nele está mais desenvolvido, juntamente com
esta idéia ocorre que passa a dar grande importância à coisas que antes
pareciam detalhes e que à ele passavam despercebidas ( conforme havíamos discutido
antes, aliás esta é uma das possíveis explicações do processo de formação dos sensitivos
)
Me apartei por
um momento da explicação sobre os sentimentos, importante é a união e suas
possíveis origens ( Física ou Intelectual ), os sentimentos são inflamação do
espírito, movimento da alma, estão num nível superior ao nível intelectual
porque são imperiosamente mais fortes em intensidade e imprimem um conhecimento
da realidade que não pode ser comparado às duas primeiras categorias; Aquele
que se deixa envolver pelas sutilezas de uma música de maneira sensível e
detalhada descobre diante de si um mundo completamente diferente. Poderíamos
sub-dividir os sentimentos em outras três partes:
1 – Sentimentos artísticos
2 – Sentimento de afeição às pessoas
3 – Sentimentos de afeição à Deus
Sendo que é
importante frisar que o sentimento de afeição à Deus é diferente do estado
transcendente pois ainda está no âmbito dos sentimentos. Os sentimentos ( 3
tipos ) estão interligados da mesma maneira que estão os 5 estados de
conhecimento da realidade, e se desenvolvem da mesma maneira numa cadência
progressiva na ordem que foram relatados.
4 -
Intuitivo – É um estado de conhecimento ( percepção ) da
realidade que se diferencia do sentimental por estar ainda mais distante do
racional e por isto permite abranger em si contradições e idéias sem sentido ou
nexo pode ser descrito como o próprio “inconsciente”, relaciona-se com a
intuição a criatividade, onde no subconsciente as idéias artísticas já parecem
estar completas antes que o autor tenha consciência do que irá compor, os
sentimentos estão num nível abaixo justamente porque podem ser entendidos e
explicados completamente, ao contrário dos processos intuitivos.
5 – Transcendental – Vamos imaginar que além
do intuitivo haja ainda mais um nível, que supere o campo da necessidade de
ação, sonhos, realizações, objetivos ou mesmo vivências, que supere até o
que possamos conhecer por “silêncio”, nada ou ausência chegando à um patamar
desconhecido e por isto transcendente, inimaginável. Para aí chegar há várias
formas, a corrida pode constituir um primeiro passo na caminhada da realidade.
Não nos esqueçamos que todo nível que é passado abarca todos os anteriores,
assim, mesmo o transcendental abarca todos os outros e é tão consciente de
todos eles que nota que não existem, são criações ilusórias da vontade humana.
A corrida pode por este motivo estar envolvida com qualquer um dos níveis, não
precisa necedssariamente estar restrita somente ao nível físico, o que seria o
mais óbvio cogitar.
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