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- O aprendiz e o virtuoso sensitivo
Os caminhos verdadeiros estão na essência
Não se deixai ludibriar pela vida aparente
No silêncio da alma e da própria tristeza
Emerge a alegria
Pois tudo que é brusco e que acontece de repente
É falso
Quereis algo mais verdadeiro que a tristeza?
Algo mais espirituoso que a lágrima?
Os caminhos verdadeiros estão no silêncio da tristeza
Na letargia da arte
No antagonismo da loucura
Na força descomunal do virtuosismo
Os caminhos verdadeiros estão na lágrima humana
Gotas dos divinos céus
Força poderosa irresistível
Pobres daqueles que não percebem
Que quem rege a vida é o próprio inconsciente
E não este consciente perdido e minúsculo
As novidades são promissoras
Contanto que a pessoa tenha a sutileza da percepção
Pés firmes à terra
A arte é a vida que nunca poderá morrer
Distante e próxima de tudo
Os sentidos realmente enviam
estímulos ao espírito, libertando-o de uma letargia nefasta à vida, uma
letargia de paralização, por isto digo-vos que é através dos sentidos que
chegamos à Deus. Haveria por certo um nível superior aos sentidos que seria
a própria interpretação dos sentidos ( visão, tato, olfato, paladar e audição
), assim, quando o vento resvala a pele sente e os pensamentos interpretam o
que foi sentido como algo sagrado, assim o pensamento eleva-se à um patamar
espiritual. É evidente que há uma diferença nos sentidos que são “enviados e
captados” pela pessoa, já que podem ser mais ou menos complexos, tal como uma
música clássica, ou mesmo os cabelos de ouro de uma donzela, os estimulos
mais complexos tendem a proporcionar uma vivacidade, uma inflamação,
um efeito de elevação do espírito maior naquele que os interpreta,
enquanto que os estímulos sensíveis simples tendem a não provocar esta
onda de virtuosismo e enlevação.
No entanto
estes conceitos ainda são relativos, já que como os estimulos sensoriais são
suscetíveis à interpretação há considerável dependência de conceitos,
valores e idéias internos na percepção do mundo externo daquele que
interpreta, assim, pode ocorrer de um estimulo sensorial simples tal como o
rufar de um tambor distante, ou a beleza das folhas de uma árvore tornarem um
motivo sulficientemente forte para inflamar o espírito daquele que vê ou ouve.
Compactando esta idéia temos:
-
Estimulos sensoriais complexos ( Uma
composição sinfônica, uma exposição de esculturas )
-
Estimulos sensoriais simples ( Coisas
pequenas que nos ocorrem no “dia a dia”. )
Aquilo que é
aparentemente pequenino transforma-se ( sempre é e não é ao mesmo tempo, por
isto a transformação é aparente ) em algo grandioso e sagrado ao intérprete.
Ocorre também que as pessoas interpretam de diferentes maneiras os mesmos
estímulos, isto pode ser motivo de muitos casos de desentendimento e
discussão, mas também de estupefação e surpresa. Por isto também a concepção
estética de belo e agradável é variável de indivíduo para indivíduo, assim, os
estímulos do mundo possuem tantos sentidos quanto existem pessoas para
interpretá-los.
Um fato que
acontece é que o desenvolvimento da interpretação de estímulos
sensoriais, no início o indivíduo não confere muita importância aos detalhes (
estímulos simples ), na medida em que convive com os estímulos, e aprende a
entender os complexos ( cultura complexa ) automaticamente quando têm a
percepção dos estímulos simples passa à dar à eles outro significado,
supostamente mais elevado.
Assim como
percebe o mundo através de seus estímulos sensoriais, percebe as pessoas, e com
o desenvolvimento de sua capacidade perceptiva ou “sensibilidade do
espírito” passa a perceber detalhes nas pessoas; detalhes estes que passam
despercebidos às próprias pessoas que se julgam portadoras do conhecimento de
si mesmas. Estes detalhes podem ser transcritos em uma lista de exemplos, no
entanto um fato que ocorre, muito diferente do conhecimento construído pela
razão é que a “sensibilidade do espírito” é embasada não em linhas de atuação
específicas, mas sim em uma atuação mais intuitiva que qualquer outra
coisa.
Estes detalhes
que são exalados pelas pessoas podem estar desde uma palavra específica que ela
proferiu aleatoriamente em um discurso, uma atitude que ela tomou ou mesmo num
pequeno movimento involuntário ( voluntário na consciência ) de seus olhos.
Em geral a
capacidade perceptiva de um sensitivo é de maior envergadura ( colocamos
aqui como sensitivo a pessoa que desenvolveu através de um processo educativo a
capacidade de percepção dos “estímulos sensoriais simples de forma complexa” )
Tudo no mundo têm um sentido diferente do que se assemelha quando analisado
numa primeira instância, de maneira rápida, despreocupada e informal.
ESC = Estímulo sensorial complexo
ESS = Estímulo sensorial simples
Sensitivo
ESC = Consegue assimilar globalmente o sentido e a
mensagem
ESS = O simples também é complexo, às vezes até mais que o
ESC
Aprendiz
ESC = Têm dificuldade em assimilar o complexo
ESS = Entende melhor o simples, assim como ele aparenta
ser
A diferença
entre o aprendiz ( Que está colocado com a pessoa que precisa de um
desenvolvimento educacional para a “cultura complexa” ) e o sensitivo é que o
sensitivo transforma os ESS, não em ESC pois isto é impossível, mas em idéias,
sentimentos e percepções mentais complexas de modo que consiga ter o espírito
inflamado com apenas um detalhe, enquanto o aprendiz, com sua visão limitada
não consegue entender os estímulos complexos e dá um valor diferente aos ESS do
que é dado pelo sensitivo.
Tudo isto é
bastante visível quando notamos que há muita gente que vive fazendo
“picuinhas”, “pilhérias”, brincadeiras fúteis e caçoadas enquanto outros não
notam quaisquer teor de relevância nisto, ainda que para alguns possam
representar um entretenimento hilariante senão até extasiante, tratamos aqui
sobre os valores pessoais de cada um dos dois grupos, é por esta distinção de
valores que o sensitivo se torna indiferente à muitos aspectos da vida, o
aprendiz interpreta o próprio sensitivo como uma pessoa estranha, série e sem
graça, do mesmo modo que o virtuoso sensitivo julga o aprendiz como ingênuo
desconhecedor de realidades maiores.
Esta
indiferença do sensitivo nada mais é que a não cumplicidade pela erraticidade
mundana, a não participação no erro do aprendiz. Pois o sensitivo não é
mundano, já têm uma ascenção cultural, uma sabedoria além do comum por seus
contínuos esforços ( aliás, aquele que não se esforça não se torna sensitivo ),
principalmente por sua moral elevada e correta é um homem de valores
transcendentais, vê o que é oculto à muitos, percebe nuançes que poucos
perceberiam, nota detalhes de difícil acesso.
Finalmente
chegamos ao maratonista, este é por excelência o maior exemplo do esforço,
dedicação e vontade o que condiz com um “movimento de espírito” grande;
O maratonista nota detalhes de seu corpo que não corredores ou até mesmo
corredores de distâncias mais curtas não percebem, é evidente que estas
percepções não se restringem ao âmbito corpóreo mas se alastram aos aspéctos
psíquicos como capacidade de concentração ( que é ampliada ), aliás existe uma
diferença entre concentração e introversão. Concentração é a capacidade
de centrar-se em algo fora da mente ( como: trajeto, passadas as dores do corpo
ou o ritmo ), enquanto que introversão é a capacidade de ampliar e
desenvolver idéias, imaginações e divagações dentro da própria mente. Tanto uma
quanto a outra ajudam o corredor, sendo que cada momento requer uma necessidade
específica. Em geral o religioso, aquele que ora com fé e devoção, têm as duas
capacidades bem desenvolvidas, pois as imaginações se propagam em sua mente de
maneira espantosa, em geral ele se concentra na visão de um objeto devocional
específico ou na própria oração que profere, recebendo de si mesmo um ESS
auditivo, que por repetição pode facilitar a interpretação complexa do
simples, da qual havíamos falado antes.
Agora proponho
uma pergunta: O corredor religioso é mais sensitivo que o não religioso?
Conforme citado, caso o indivíduo seja um religioso de verdade e não apenas na
aparência, ele dá à vida um valor diferente do que os outros dão, um valor que
transcende a “percepção dos sentidos humanos”, pois estes são
insulficientes para a adoção das idéias e realidades divinas. Assim, os
religiosos devem recorrer ao campo das idéias, da devoção e ao campo da
intuição, que são ( os 2 últimos ) aspectos que o sistema econômico-ideológico
suprime no potencial humano atual.
Percepção dos sentidos humanos
IDÉIAS
INTUIÇÃO
DEVOCÃO
Deus
O corredor religioso é por isto mais criativo
que o ateu, com isto interpreta de maneira mais espontânea as situações que
exigem improviso e criação, como um filósofo ( aliás a religião têm um contexto
dogmático e ideológico bastante forte ) têm uma capacidade de abstração da
realidade além do comum pois isto é o mínimo que a religião exige, então ocorre
um processo de intelectualização da realidade propriamente dita ao mundo das
idéias, a realidade é submetida ao julgamento da “consciência espiritual” (
dotada de idéias, experiências e criações mentais ) Forma-se assim uma nova
realidade:
Sentidos –
Interpretação Sagrada – Sentimentos – Movimento do espírito
REALIDADE –
JULGAMENTO DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL – NOVA REALIDADE
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