Saturday, November 2, 2024

3 - O aprendiz e o virtuoso sensitivo

 

3 - O aprendiz e o virtuoso sensitivo

 

Os caminhos verdadeiros estão na essência

Não se deixai ludibriar pela vida aparente

No silêncio da alma e da própria tristeza

Emerge a alegria

Pois tudo que é brusco e que acontece de repente

É falso

Quereis algo mais verdadeiro que a tristeza?

Algo mais espirituoso que a lágrima?

Os caminhos verdadeiros estão no silêncio da tristeza

Na letargia da arte

No antagonismo da loucura

Na força descomunal do virtuosismo

Os caminhos verdadeiros estão na lágrima humana

Gotas dos divinos céus

Força poderosa irresistível

Pobres daqueles que não percebem

Que quem rege a vida é o próprio inconsciente

E não este consciente perdido e minúsculo

As novidades são promissoras

Contanto que a pessoa tenha a sutileza da percepção

Pés firmes à terra

A arte é a vida que nunca poderá morrer

Distante e próxima de tudo

 

      Os sentidos realmente enviam estímulos ao espírito, libertando-o de uma letargia nefasta à vida, uma letargia de paralização, por isto digo-vos que é através dos sentidos que chegamos à Deus. Haveria por certo um nível superior aos sentidos que seria a própria interpretação dos sentidos ( visão, tato, olfato, paladar e audição ), assim, quando o vento resvala a pele sente e os pensamentos interpretam o que foi sentido como algo sagrado, assim o pensamento eleva-se à um patamar espiritual. É evidente que há uma diferença nos sentidos que são “enviados e captados” pela pessoa, já que podem ser mais ou menos complexos, tal como uma música clássica, ou mesmo os cabelos de ouro de uma donzela, os estimulos mais complexos tendem a proporcionar uma vivacidade, uma inflamação, um efeito de elevação do espírito maior naquele que os interpreta, enquanto que os estímulos sensíveis simples tendem a não provocar esta onda de virtuosismo e enlevação.

      No entanto estes conceitos ainda são relativos, já que como os estimulos sensoriais são suscetíveis à interpretação há considerável dependência de conceitos, valores e idéias internos na percepção do mundo externo daquele que interpreta, assim, pode ocorrer de um estimulo sensorial simples tal como o rufar de um tambor distante, ou a beleza das folhas de uma árvore tornarem um motivo sulficientemente forte para inflamar o espírito daquele que vê ou ouve. Compactando esta idéia temos:

-          Estimulos sensoriais complexos ( Uma composição sinfônica, uma exposição de esculturas )

-          Estimulos sensoriais simples ( Coisas pequenas que nos ocorrem no “dia a dia”. )

     Aquilo que é aparentemente pequenino transforma-se ( sempre é e não é ao mesmo tempo, por isto a transformação é aparente ) em algo grandioso e sagrado ao intérprete. Ocorre também que as pessoas interpretam de diferentes maneiras os mesmos estímulos, isto pode ser motivo de muitos casos de desentendimento e discussão, mas também de estupefação e surpresa. Por isto também a concepção estética de belo e agradável é variável de indivíduo para indivíduo, assim, os estímulos do mundo possuem tantos sentidos quanto existem pessoas para interpretá-los.

       Um fato que acontece é que o desenvolvimento da interpretação de estímulos sensoriais, no início o indivíduo não confere muita importância aos detalhes ( estímulos simples ), na medida em que convive com os estímulos, e aprende a entender os complexos ( cultura complexa ) automaticamente quando têm a percepção dos estímulos simples passa à dar à eles outro significado, supostamente mais elevado.

       Assim como percebe o mundo através de seus estímulos sensoriais, percebe as pessoas, e com o desenvolvimento de sua capacidade perceptiva ou “sensibilidade do espírito” passa a perceber detalhes nas pessoas; detalhes estes que passam despercebidos às próprias pessoas que se julgam portadoras do conhecimento de si mesmas. Estes detalhes podem ser transcritos em uma lista de exemplos, no entanto um fato que ocorre, muito diferente do conhecimento construído pela razão é que a “sensibilidade do espírito” é embasada não em linhas de atuação específicas, mas sim em uma atuação mais intuitiva que qualquer outra coisa.

      Estes detalhes que são exalados pelas pessoas podem estar desde uma palavra específica que ela proferiu aleatoriamente em um discurso, uma atitude que ela tomou ou mesmo num pequeno movimento involuntário ( voluntário na consciência ) de seus olhos.

      Em geral a capacidade perceptiva de um sensitivo é de maior envergadura ( colocamos aqui como sensitivo a pessoa que desenvolveu através de um processo educativo a capacidade de percepção dos “estímulos sensoriais simples de forma complexa” ) Tudo no mundo têm um sentido diferente do que se assemelha quando analisado numa primeira instância, de maneira rápida, despreocupada e informal.

ESC = Estímulo sensorial complexo

ESS = Estímulo sensorial simples

Sensitivo

ESC = Consegue assimilar globalmente o sentido e a mensagem

ESS = O simples também é complexo, às vezes até mais que o ESC

Aprendiz

ESC = Têm dificuldade em assimilar o complexo

ESS = Entende melhor o simples, assim como ele aparenta ser

      A diferença entre o aprendiz ( Que está colocado com a pessoa que precisa de um desenvolvimento educacional para a “cultura complexa” ) e o sensitivo é que o sensitivo transforma os ESS, não em ESC pois isto é impossível, mas em idéias, sentimentos e percepções mentais complexas de modo que consiga ter o espírito inflamado com apenas um detalhe, enquanto o aprendiz, com sua visão limitada não consegue entender os estímulos complexos e dá um valor diferente aos ESS do que é dado pelo sensitivo.

      Tudo isto é bastante visível quando notamos que há muita gente que vive fazendo “picuinhas”, “pilhérias”, brincadeiras fúteis e caçoadas enquanto outros não notam quaisquer teor de relevância nisto, ainda que para alguns possam representar um entretenimento hilariante senão até extasiante, tratamos aqui sobre os valores pessoais de cada um dos dois grupos, é por esta distinção de valores que o sensitivo se torna indiferente à muitos aspectos da vida, o aprendiz interpreta o próprio sensitivo como uma pessoa estranha, série e sem graça, do mesmo modo que o virtuoso sensitivo julga o aprendiz como ingênuo desconhecedor de realidades maiores.

      Esta indiferença do sensitivo nada mais é que a não cumplicidade pela erraticidade mundana, a não participação no erro do aprendiz. Pois o sensitivo não é mundano, já têm uma ascenção cultural, uma sabedoria além do comum por seus contínuos esforços ( aliás, aquele que não se esforça não se torna sensitivo ), principalmente por sua moral elevada e correta é um homem de valores transcendentais, vê o que é oculto à muitos, percebe nuançes que poucos perceberiam, nota detalhes de difícil acesso.

      Finalmente chegamos ao maratonista, este é por excelência o maior exemplo do esforço, dedicação e vontade o que condiz com um “movimento de espírito” grande; O maratonista nota detalhes de seu corpo que não corredores ou até mesmo corredores de distâncias mais curtas não percebem, é evidente que estas percepções não se restringem ao âmbito corpóreo mas se alastram aos aspéctos psíquicos como capacidade de concentração ( que é ampliada ), aliás existe uma diferença entre concentração e introversão. Concentração é a capacidade de centrar-se em algo fora da mente ( como: trajeto, passadas as dores do corpo ou o ritmo ), enquanto que introversão é a capacidade de ampliar e desenvolver idéias, imaginações e divagações dentro da própria mente. Tanto uma quanto a outra ajudam o corredor, sendo que cada momento requer uma necessidade específica. Em geral o religioso, aquele que ora com fé e devoção, têm as duas capacidades bem desenvolvidas, pois as imaginações se propagam em sua mente de maneira espantosa, em geral ele se concentra na visão de um objeto devocional específico ou na própria oração que profere, recebendo de si mesmo um ESS auditivo, que por repetição pode facilitar a interpretação complexa do simples, da qual havíamos falado antes.

      Agora proponho uma pergunta: O corredor religioso é mais sensitivo que o não religioso? Conforme citado, caso o indivíduo seja um religioso de verdade e não apenas na aparência, ele dá à vida um valor diferente do que os outros dão, um valor que transcende a “percepção dos sentidos humanos”, pois estes são insulficientes para a adoção das idéias e realidades divinas. Assim, os religiosos devem recorrer ao campo das idéias, da devoção e ao campo da intuição, que são ( os 2 últimos ) aspectos que o sistema econômico-ideológico suprime no potencial humano atual.

Percepção dos sentidos humanos

IDÉIAS

INTUIÇÃO

DEVOCÃO

Deus

       O corredor religioso é por isto mais criativo que o ateu, com isto interpreta de maneira mais espontânea as situações que exigem improviso e criação, como um filósofo ( aliás a religião têm um contexto dogmático e ideológico bastante forte ) têm uma capacidade de abstração da realidade além do comum pois isto é o mínimo que a religião exige, então ocorre um processo de intelectualização da realidade propriamente dita ao mundo das idéias, a realidade é submetida ao julgamento da “consciência espiritual” ( dotada de idéias, experiências e criações mentais ) Forma-se assim uma nova realidade:

Sentidos – Interpretação Sagrada – Sentimentos – Movimento do espírito

REALIDADE – JULGAMENTO DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL – NOVA REALIDADE

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