25
- Sobre o Prazer, a proeza e a felicidade
O prazer é
algo que influencia incomensuravelmente em tudo aquilo que fazemos. Em cada
atividade o prazer é uma sensação que advém de diferentes motivos, ainda que o
prazer possa ser confundido com o sofrimento, ou mesmo possa ser misturado à
este. Aliás, o sofrimento pode ser até uma das exigências para que haja prazer.
O quê poderia explicar um ser humano ter a audácia de correr 42Km de forma
contínua?
Na maratona o
prazer é provindo da noção de realização de algo consideravelmente difícil,
inclusive uma situação em que há dor, sofrimento e mal estar. É bastante
provável que se não houvessem estas situações desagraveis não haveria prazer.
O prazer pelo
prazer não traz sentimento de realização
que quando acompanhado de outras vertentes. O que é visível nos esportes
radicais, em que há grande dose de perigo envolvida com o prazer, justamente
pela sensação de conseguir superar esta situação de extremo perigo sobrevêm o
prazer, tão maior quanto seja o perigo, se acaso há também o fator dificuldade
envolvido aumenta-se mais ainda este prazer, pois, perigo e dificuldade são
coisas diferentes. Podemos saltar um abismo de 4 quilômetros de profundidade
com apenas um metro de distância entre suas duas extremidades e estaríamos em
maior perigo e com menor dificuldade que saltar um abismo de apenas 5 metros de
profundidade com 3 metros de distância entre os extremos. Supostamente o prazer
vêm tanto da dificuldade: como na maratona, quanto no perigo: como em esportes
radicais. Além de prazer experimenta-se uma sensação, após a conquista, de
grande poder. O que significa prazer à uma pessoa pode ser terrificante à
outra.
Uma façanha,
uma aventura heróica, uma proeza ou qualquer coisa que apresenta em si grande
dificuldade, empecilhos. Ou algo excessivamente dispendioso, e que exija muito
das energias psíquicas, físicas ou espirituais. Isto é de tudo aquilo que
representa um desafio à essência humana.
A maratona
pode ser entendida como um evento de tal envergadura que provoca o homem, traz
à ele a verdade de suas limitações, entretanto o homem, enquanto ser dotado de
múltiplos recursos desafia seus limites utilizando estratégias e métodos para
superar as dificuldades. As façanhas e proezas somente são conquistadas quando
vistas e vivenciadas de maneira inteligente, precavida e resguardada, por isto
não podem ser entendidas como guinadas espetaculares que um ser sobre humano
executou, ainda que possam ser consideradas por suas dificuldades e magnitudes
como feitos de genialidade prosaica ou heroicidade inigualável. Principalmente
quando vistas de supetão, num encontro rápido e fugaz que é o que fazem os
espetáculos com suas luzes e músicas, enfatizando aquilo de tal maneira que
acabam por aumentar o ato além do que ele propriamente é.
O homem que
executa uma proeza não torna-se herói do mundo, mas herói de si mesmo. Pois o
mundo em que o homem vive não está fora dele senão ele mesmo é o mundo em que
vive, isto porque o mundo é sujeito à interpretação humana.
As façanhas
humanas sempre são dignas de comentário, respeito e consideração. Demonstram
grande força psíquica, vontade e perseverança. A maratona se insere neste
contexto. Pode-se dizer que os atletas maratonistas ou ultramaratonistas são
extremistas, ou seja: buscam o extremo, se acaso fosse possível ultrapassá-lo o
intentariam.
Para toda
realização laboriosa deve ser considerada a integração das realidades que
formam o ser humano ( espiral ) repercutindo uma proeza e proporcionando um
ápice de prazer e realização. Vejamos a organização sistemática da seguinte
ordenação:
Realização
laboriosa
Integração das
realidades
Proeza – Ação
realizada
Prazer – êxtase
O mundo é nada
mais que um veículo para o desenvolvimento do ser humano. Quê seria do homem
sem o mundo fenomênico? Ficaria estagnado no mesmo estágio de desenvolvimento.
Assim conseguimos entender racionalmente qual é a função do mundo para o homem.
Se o homem porventura não interpretasse o mundo este seria percebido? Sim,
seria percebido em sua maneira mais primitiva, sem que este mesmo soubesse que
tudo aquilo que percebe é ilusório, a capacidade interpretativa é pois a chama
que personifica o homem enquanto dotado de verdade, que o diferencia do mundo
ilusório. Se o mundo está para o homem da mesma maneira que a tinta está
para o artista e que as notas estão para a música não existe outra coisa que se
possa denominar como vida senão o próprio homem, pois este e mais precisamente
suas proezas são os quadros já pintados e as músicas compostas.
A prova da
maratona não escapa à esta noção, o que condiz em dizer que é um veículo de
vivência, ou método para que o homem demonstre e vivencie uma proeza ou
façanha. Desta maneira a capacidade em realizar façanhas é um potencial
acumulado no homem que pode despertar por um movimento da vontade.
Muito falamos
em prazer, mas que fique claro que muito além do prazer e mesmo da alegria, que
podem ser considerados como estados passageiros, com tempo de duraçào
específicos, ainda que o tempo para os sentimentos nada importa, inexiste,
fique claro que a felicidade é mais que uma sensação, é uma noção duradoura que
não se esgota do coração, a felicidade é mais que a alegria, é mais que o
prazer, pode existir juntamente com a dor e o sofrimento, pois é um sentimento
de cunho moral e não vinculado às condições que os sentimentos proporcionam,
mas sim ligado às realidades do pensamento, da trama da vida. Notem leitores,
que chegarmos aqui à um patamar mais elevado na discussão do sentir humano: a
felicidade.
No comments:
Post a Comment