Tuesday, November 5, 2024

25 - Sobre o Prazer, a proeza e a felicidade

 

25 - Sobre o Prazer, a proeza e a felicidade

 

        O prazer é algo que influencia incomensuravelmente em tudo aquilo que fazemos. Em cada atividade o prazer é uma sensação que advém de diferentes motivos, ainda que o prazer possa ser confundido com o sofrimento, ou mesmo possa ser misturado à este. Aliás, o sofrimento pode ser até uma das exigências para que haja prazer. O quê poderia explicar um ser humano ter a audácia de correr 42Km de forma contínua?

      Na maratona o prazer é provindo da noção de realização de algo consideravelmente difícil, inclusive uma situação em que há dor, sofrimento e mal estar. É bastante provável que se não houvessem estas situações desagraveis não haveria prazer.

      O prazer pelo prazer não traz  sentimento de realização que quando acompanhado de outras vertentes. O que é visível nos esportes radicais, em que há grande dose de perigo envolvida com o prazer, justamente pela sensação de conseguir superar esta situação de extremo perigo sobrevêm o prazer, tão maior quanto seja o perigo, se acaso há também o fator dificuldade envolvido aumenta-se mais ainda este prazer, pois, perigo e dificuldade são coisas diferentes. Podemos saltar um abismo de 4 quilômetros de profundidade com apenas um metro de distância entre suas duas extremidades e estaríamos em maior perigo e com menor dificuldade que saltar um abismo de apenas 5 metros de profundidade com 3 metros de distância entre os extremos. Supostamente o prazer vêm tanto da dificuldade: como na maratona, quanto no perigo: como em esportes radicais. Além de prazer experimenta-se uma sensação, após a conquista, de grande poder. O que significa prazer à uma pessoa pode ser terrificante à outra.

      Uma façanha, uma aventura heróica, uma proeza ou qualquer coisa que apresenta em si grande dificuldade, empecilhos. Ou algo excessivamente dispendioso, e que exija muito das energias psíquicas, físicas ou espirituais. Isto é de tudo aquilo que representa um desafio à essência humana.

      A maratona pode ser entendida como um evento de tal envergadura que provoca o homem, traz à ele a verdade de suas limitações, entretanto o homem, enquanto ser dotado de múltiplos recursos desafia seus limites utilizando estratégias e métodos para superar as dificuldades. As façanhas e proezas somente são conquistadas quando vistas e vivenciadas de maneira inteligente, precavida e resguardada, por isto não podem ser entendidas como guinadas espetaculares que um ser sobre humano executou, ainda que possam ser consideradas por suas dificuldades e magnitudes como feitos de genialidade prosaica ou heroicidade inigualável. Principalmente quando vistas de supetão, num encontro rápido e fugaz que é o que fazem os espetáculos com suas luzes e músicas, enfatizando aquilo de tal maneira que acabam por aumentar o ato além do que ele propriamente é.

      O homem que executa uma proeza não torna-se herói do mundo, mas herói de si mesmo. Pois o mundo em que o homem vive não está fora dele senão ele mesmo é o mundo em que vive, isto porque o mundo é sujeito à interpretação humana.

      As façanhas humanas sempre são dignas de comentário, respeito e consideração. Demonstram grande força psíquica, vontade e perseverança. A maratona se insere neste contexto. Pode-se dizer que os atletas maratonistas ou ultramaratonistas são extremistas, ou seja: buscam o extremo, se acaso fosse possível ultrapassá-lo o intentariam.

      Para toda realização laboriosa deve ser considerada a integração das realidades que formam o ser humano ( espiral ) repercutindo uma proeza e proporcionando um ápice de prazer e realização. Vejamos a organização sistemática da seguinte ordenação:

Realização laboriosa

Integração das realidades

Proeza – Ação realizada

Prazer – êxtase

      O mundo é nada mais que um veículo para o desenvolvimento do ser humano. Quê seria do homem sem o mundo fenomênico? Ficaria estagnado no mesmo estágio de desenvolvimento. Assim conseguimos entender racionalmente qual é a função do mundo para o homem. Se o homem porventura não interpretasse o mundo este seria percebido? Sim, seria percebido em sua maneira mais primitiva, sem que este mesmo soubesse que tudo aquilo que percebe é ilusório, a capacidade interpretativa é pois a chama que personifica o homem enquanto dotado de verdade, que o diferencia do mundo ilusório. Se o mundo está para o homem da mesma maneira que a tinta está para o artista e que as notas estão para a música não existe outra coisa que se possa denominar como vida senão o próprio homem, pois este e mais precisamente suas proezas são os quadros já pintados e as músicas compostas.

      A prova da maratona não escapa à esta noção, o que condiz em dizer que é um veículo de vivência, ou método para que o homem demonstre e vivencie uma proeza ou façanha. Desta maneira a capacidade em realizar façanhas é um potencial acumulado no homem que pode despertar por um movimento da vontade.

      Muito falamos em prazer, mas que fique claro que muito além do prazer e mesmo da alegria, que podem ser considerados como estados passageiros, com tempo de duraçào específicos, ainda que o tempo para os sentimentos nada importa, inexiste, fique claro que a felicidade é mais que uma sensação, é uma noção duradoura que não se esgota do coração, a felicidade é mais que a alegria, é mais que o prazer, pode existir juntamente com a dor e o sofrimento, pois é um sentimento de cunho moral e não vinculado às condições que os sentimentos proporcionam, mas sim ligado às realidades do pensamento, da trama da vida. Notem leitores, que chegarmos aqui à um patamar mais elevado na discussão do sentir humano: a felicidade.

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