Tuesday, November 5, 2024

23 – Expressão, transmissão dos sentimentos

 

23 – Expressão, transmissão dos sentimentos

      Organizei, no entanto não transcrevi para a interpretação dos sentimentos... Ocorre com a interpretação musical o mesmo que com a interpretação de sentimentos, com a diferença de que h’um passo a menos, j’que a música nada mais é que um vínculo entre sentimentos e expressão. Aliás não existem sentimentos em seu estado puro, pois eles sempre exigem um meio de expressão, seja um sorrir ou chorar, ou meios mais complexos oferecidos pelas possibilidades artísticas.

      O sorrir e chorar não são os sentimentos propriamente ditos senão uma maneira de expressa-los. É como dizer que o vocabulário é uma ferramenta para expressar a idéia, por isto é que existem muitas idéias que custam a se encaixar num modo de expressão que faça jus à suas realidades, par que sejam entendidas como são, por isto também muitas pessoas não conseguem expressar com exatidão o que sentem: Os sentimentos vão até onde a expressão intelectual não pode ir.

      Assim, as ferramentas são sempre limitadas, e por isto deve-se recorrer à outras ferramentas para expressar determinado sentimento, tais como: música, pintura, escultura, literatura ou dramatização.

      Deste modo o sentimento pode ser demonstrado e transmitido com melhor nitidez, com a exatidão que permite a ferramenta utilizada.

      O segundo passo é a interpretação deste sentimento, mediante o que foi dito, nota-se que melhor interpreta-se aquilo que foi melhor expresso. Caso o sujeito saiba abster-se de suas próprias idéias e convicções ele não irá interpretar senão assimilar o que está sendo expresso, e entender aquilo como realmente é, não distorcendo aquela verdade. Tanto melhor quanto mais bem expresso estiver o sentimento, para isto o homem criou a cultura artística, que deve ser efetivamente utilizada com este fim, inclusive dentro do contexto estético e filosófico.

      Como entender quais os sentimentos que perpassam um corredor durante ou ao final de uma maratona? Esta questão é de larga envergadura, talvez tão larga quanto os quilômetros que corre este atleta. A princípio deve-se notar como estão sendo expressos seus sentimentos. Nos atenhamos agora à seguinte descrição:

      “Era um momento crucial, matar ou morrer, já estava por volta do quilômetro 30, minhas energias já haviam se exaurido, no entanto havia em min uma força de vontade incontrolável, que me fazia continuar correndo seguidamente com muitos gritos, de ânimo e euforia que me davam a certeza de que eu terminaria aquela prova.”

      Neste caso temos a descrição do corredor, imaginemos um atleta já extremamente fatigado, ainda correndo e gritando, sentindo-se no limite e ao mesmo tempo como um animal feroz que deve continuar até o final.

      Quê demonstra este atleta? Por certo uma persistência fora do comum, que se inicia no campo psíquico e repercute no físico fornecendo-lhe uma química orgânica necessária à sua descomunal tarefa. ( Prostraglandinas, serotoninas, endorfinas, alteração do estado hormonal, alteração da acidose: ácido lático ) Estas mudanças provém tanto do princípio de faixas de pensamentos específicas, ou seja: iniciando no cérebro, como também pelas alterações químicas produzidas pelo movimento corporal.

      Só quem correu uma maratona sabe o quão grande é a relação da mente com o corpo, e o quanto a força de vontade pode ativar o organismo em momentos de extremo desgaste e fadiga. Os outros podem apenas tentar imaginar, ainda que seja assim os espectadores podem se sensibilizar com estas situações, utilizando o mesmo método de interpretação usado para perceber a música na metáfora anterior, assim pode-se tentar chegar ao máximo fidedigno a percepção de quê ocorre com um maratonista.

      Imagine então que este corredor, após mais  12 Km de  pura força de vontade chega ao pórtico de chegada. Qual será a intensidade de sentimentos de sua psíque? Talvez tão grande quanto sua força de vontade, ou quanto seus esforços para chegar até lá, quando me refiro à esforços não quero dizer apenas os que foram despendidos naquele dia durante a prova, mas também todos aqueles que se figuram no decorrer de 3 ou 4 meses antecedentes à prova . E ainda mais: não somente os esforços físicos como também toda dificuldade relativa à treino, e por outras vezes relativa à sua vida, tudo isto se assoma e se extravasa no momento crucial da linha de chegada  , numa reverberação que pode variar segundo o modo de expressão: sorriso, choro, quietude ou euforia.

      Quando digo que interpretar os sentimentos de alguém é ir além do simples contexto proporcionado pela visão quero dizer que deve-se assimilar mediante o conceito da vida da própria pessoa: Entendo o que ela sente pelo que ela é.

      Se dependermos meramente do contexto das atitudes e expressões para interpretar uma pessoa muito poderemos nos enganar, mais adequado é entendermos seu contexto geral, pois as pessoas podem expressar sentimentos diferentes de maneiras iguais, ou os mesmos sentimentos de maneiras variadas.

      Esta frase traduz muito bem a maneira do sensitivo de entender as outras pessoas, pois ele não utiliza seus conceitos pessoais para obumbrar seu entendimento do mundo externo, mas os relega para entender a realidade assim como ela é entendida por aquele que se expressa.

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