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– Expressão, transmissão dos sentimentos
Organizei, no
entanto não transcrevi para a interpretação dos sentimentos... Ocorre com a
interpretação musical o mesmo que com a interpretação de sentimentos, com a
diferença de que h’um passo a menos, j’que a música nada mais é que um vínculo
entre sentimentos e expressão. Aliás não existem sentimentos em seu estado
puro, pois eles sempre exigem um meio de expressão, seja um sorrir ou chorar,
ou meios mais complexos oferecidos pelas possibilidades artísticas.
O sorrir e
chorar não são os sentimentos propriamente ditos senão uma maneira de
expressa-los. É como dizer que o vocabulário é uma ferramenta para expressar a
idéia, por isto é que existem muitas idéias que custam a se encaixar num modo
de expressão que faça jus à suas realidades, par que sejam entendidas como são,
por isto também muitas pessoas não conseguem expressar com exatidão o que
sentem: Os sentimentos vão até onde a expressão intelectual não pode ir.
Assim, as
ferramentas são sempre limitadas, e por isto deve-se recorrer à outras
ferramentas para expressar determinado sentimento, tais como: música, pintura,
escultura, literatura ou dramatização.
Deste modo o
sentimento pode ser demonstrado e transmitido com melhor nitidez, com a
exatidão que permite a ferramenta utilizada.
O segundo
passo é a interpretação deste sentimento, mediante o que foi dito, nota-se que
melhor interpreta-se aquilo que foi melhor expresso. Caso o sujeito saiba
abster-se de suas próprias idéias e convicções ele não irá interpretar senão
assimilar o que está sendo expresso, e entender aquilo como realmente é,
não distorcendo aquela verdade. Tanto melhor quanto mais bem expresso estiver o
sentimento, para isto o homem criou a cultura artística, que deve ser
efetivamente utilizada com este fim, inclusive dentro do contexto estético e
filosófico.
Como entender
quais os sentimentos que perpassam um corredor durante ou ao final de uma
maratona? Esta questão é de larga envergadura, talvez tão larga quanto os
quilômetros que corre este atleta. A princípio deve-se notar como estão sendo
expressos seus sentimentos. Nos atenhamos agora à seguinte descrição:
“Era um
momento crucial, matar ou morrer, já estava por volta do quilômetro 30, minhas
energias já haviam se exaurido, no entanto havia em min uma força de vontade
incontrolável, que me fazia continuar correndo seguidamente com muitos gritos,
de ânimo e euforia que me davam a certeza de que eu terminaria aquela prova.”
Neste caso
temos a descrição do corredor, imaginemos um atleta já extremamente fatigado,
ainda correndo e gritando, sentindo-se no limite e ao mesmo tempo como um
animal feroz que deve continuar até o final.
Quê demonstra
este atleta? Por certo uma persistência fora do comum, que se inicia no campo
psíquico e repercute no físico fornecendo-lhe uma química orgânica necessária à
sua descomunal tarefa. ( Prostraglandinas, serotoninas, endorfinas, alteração
do estado hormonal, alteração da acidose: ácido lático ) Estas mudanças provém
tanto do princípio de faixas de pensamentos específicas, ou seja: iniciando no
cérebro, como também pelas alterações químicas produzidas pelo movimento
corporal.
Só quem
correu uma maratona sabe o quão grande é a relação da mente com o corpo, e o
quanto a força de vontade pode ativar o organismo em momentos de extremo
desgaste e fadiga. Os outros podem apenas tentar imaginar, ainda que seja
assim os espectadores podem se sensibilizar com estas situações, utilizando o
mesmo método de interpretação usado para perceber a música na metáfora
anterior, assim pode-se tentar chegar ao máximo fidedigno a percepção de quê
ocorre com um maratonista.
Imagine então
que este corredor, após mais 12 Km
de pura força de vontade chega ao
pórtico de chegada. Qual será a intensidade de sentimentos de sua psíque?
Talvez tão grande quanto sua força de vontade, ou quanto seus esforços para
chegar até lá, quando me refiro à esforços não quero dizer apenas os que foram
despendidos naquele dia durante a prova, mas também todos aqueles que se figuram
no decorrer de 3 ou 4 meses antecedentes à prova . E ainda mais: não somente os
esforços físicos como também toda dificuldade relativa à treino, e por outras
vezes relativa à sua vida, tudo isto se assoma e se extravasa no momento
crucial da linha de chegada , numa
reverberação que pode variar segundo o modo de expressão: sorriso, choro,
quietude ou euforia.
Quando digo
que interpretar os sentimentos de alguém é ir além do simples contexto
proporcionado pela visão quero dizer que deve-se assimilar mediante o conceito
da vida da própria pessoa: Entendo o que ela sente pelo que ela é.
Se dependermos
meramente do contexto das atitudes e expressões para interpretar uma pessoa
muito poderemos nos enganar, mais adequado é entendermos seu contexto geral,
pois as pessoas podem expressar sentimentos diferentes de maneiras iguais, ou
os mesmos sentimentos de maneiras variadas.
Esta frase
traduz muito bem a maneira do sensitivo de entender as outras pessoas, pois ele
não utiliza seus conceitos pessoais para obumbrar seu entendimento do mundo
externo, mas os relega para entender a realidade assim como ela é entendida por
aquele que se expressa.
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